ARTIGO: De Gal Costa a Milton Nascimento, uma semana linda para a MPB, apesar de tudo

Quando a semana termina, a gente sempre diz: "bah, esta semana foi pesada". Mas nesta, especificamente, a expressão se aplica perfeitamente: perder Bebeto Alves, Gal Costa e Rolando Boldrin não é fácil. A música popular gaúcha e a brasileira estão vestidas por um luto tremendo, mas ao em vez de silêncio, tem muita música no ar. As canções desses três artistas estão tocando mais do que nunca, e as homenagens que vem sendo feitas estão entrando para a história e celebrando a memória e o trabalho eternizado por esses artistas. 

Bebeto Alves trouxe a fronteira para cidade, e fez pop, rock, milonga, e misturou tudo para boa parte da região sul do Brasil, países do Mercosul e chegou a chamar a atenção do centro do país. Mas ele continuava fiel ao Rio Grande do Sul e no final da vida dedicou-se aos amigos, à capital gaúcha e a continuar produzindo sem parar. Sempre com obras elogiosas. Chegou a formar o trio LOS TRÊS PLANTADOS, junto com Jimi Joe e King Jim, brincando com o fato dos três terem sido submetidos a transplantes e ganharem sobrevida e ao mesmo tempo conscientizando sobre a importância da doação de órgãos. Vá em paz, Bebeto.

Na quarta amanhecemos com a pavorosa notícia da morte de Gal Costa. O Brasil foi pego de surpresa. Fora os problemas de saúde dos últimos dias, nada indicava que uma das maiores intérpretes da música popular brasileira iria nos deixar. Imediatamente seus discos e faixas começaram a ser reproduzidos, como se fosse um coro fazendo um tributo. Eu mesmo passei a tarde de quarta em home office degustando os três álbuns que mais gosto dela: Fantasia, Aquarela do Brasil e Minha Voz, Minha Vida.  Estão até agora falando em Gal. E tudo que for falado parece que não será suficiente. O velório da cantora foi aberto ao público e penso que isso que foi uma decisão maravilhosa, de aproximar o povo de seu ídolo. Vá em paz, Gal.

Na mesma quarta, ainda, perdemos o ator, cantor, compositor e apresentador de televisão Rolando Boldrin, depois de dois meses de internação no hospital. Com mais de 60 anos de carreira, Boldrin personificou e representou a música caipira de raiz e divulgou os grandes sucessos e verdadeiros talentos da cultura sertaneja no Brasil. Da mesma forma que com Gal, o velório de Boldrin foi realizado na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo e aberto ao público. Vá em paz, Boldrin.

Mas a semana não terminou apenas com perdas, mas sim, de despedidas: calhou de Milton Nascimento, do alto dos seus 80 anos, lotar o estádio Mineirão para fazer seu último show. Não podia ser diferente, fora da sua terra natal, que Bituca teria que apresentar-se pela última vez. Foram 55 mil pessoas emocionadas e que emocionaram ainda mais um dos maiores compositores do país. Ele chegou a passar neste ano em diversas cidades do Brasil com a turnê “A última sessão de música”, com audições esgotadas. Assisti uma boa parte desse show neste domingo, na transmissão que foi feita ao vivo, e realmente foram inesquecíveis as lágrimas de Milton no palco.

Tenho a impressão às vezes de que a nossa verdadeira MPB só ficará viva em nossas memórias, no streaming e nos nossos discos de casa. Pois a qualidade dessa geração de artistas é muito superior ao que temos hoje em dia. Isso não é demérito para ninguém. Sei que temos grandes nomes e ótimos trabalhos. Mas a geração de Milton, Gal, Boldrin e Bebeto é insuperável. Ao lado de Chico, Caetano, Rita Lee, Bethânia e Gil, são todos inigualáveis. E claro, muitas bandas de rock inesquecíveis da nossa história. Ah, a semana terminou com mais uma boa notícia: a confirmação de os integrantes dos Titãs vão estar juntos novamente parta fazer em 2023 uma turnê de 40 anos de estrada, provando que a vida é feita mesmo de encontros e despedidas, como diz a música do Milton e do Fernando Brandt. E de reencontros, também!

Renato Martins, jornalista e professor, editor da Rede #AtitudePositiva.

  






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