Na virada do ano, no último dia de 2022, o mais antigo clube negro do Brasil estará completando 150 anos. A Sociedade Beneficente e Cultural Floresta Aurora surgiu em Porto Alegre antes mesmo do fim da escravidão no Brasil, em 1888. Neste comemorado ano em que a Princesa Isabel assinou a Lei Áurea, a instituição já tinha 16 anos de existência. A Aurora foi fundada em 31 de dezembro de 1872.
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| Reprodução site da entidade - sede em Belém Velho |
Recebeu este nome porque o primeiro local da entidade foi justamente entre as ruas Aurora, hoje conhecida como Avenida Cristóvão Colombo e a Rua Barros Cassal. Ela surgiu para auxiliar a comunidade negra que precisava se unir lutar pelos seus direitos. Ainda com uma parte de pessoas escravizadas, eles não tinham onde se reunir. Quando morriam, os negros eram enterrados em sepulturas rasas e os corpos ficavam à mostra. Não haviam rituais de despedida ou religiosos, e a sociedade Aurora veio dar assistência a essas famílias que não tinham como se sustentar.
O atual presidente da associação, Gilmar Afrausino, de 67 anos, já contou em diversas reportagens alusivas ao aniversário, que o clube teve diversas sedes antes de se instalar no bairro Belém Velho, na zona sul da capital gaúcha, onde está de 2013 até hoje. Hoje a instituição tem 150 associados, além de diversos colaboradores. Mesmo com as constantes dificuldades financeiras, o clube nunca chegou a fechar. Só paralisou as atividades na pandemia, devido às restrições. Mas a Aurora está com as conytas em dia e saudável financeiramente, segundo o presidente Afrausino.
Muitos dos atuais integrantes são descendentes de escravos, que tentam recuperar a história de seus ancestrais, mapeando as suas raízes. Um trabalho que é muito difícil, porque os negros eram vendidos com documentos sem informações completas. Crianças eram tiradas de suas mães e levadas para fazendas, e além de escravizadas, muitas vezes eram estupradas e engravidavam, tornando-se em crianças sem pai conhecido.
No mês da consciência negra, quando comemoramos a causa neste domingo 20 de novembro, lembramos que a Sociedade Aurora foi importantíssima na definição da data. Um grupo de associados criou o Grupo Palmares, voltado para o ativismo político e cultural que foi atuante justamente na época da ditadura militar. Nos anos 70, eles lutaram pela existência de um dia no calendário que propiciasse uma reflexão sobre a questão racial, que resultou num movimento que surgiu de Porto Alegre para todo o Brasil.
A comunidade negra não aceitava o 13 de maio, data da Abolição da Escravatura. Para eles, o 20 de novembro, dia da morte de Zumbi dos Palmares em 1695, simbolizava a justiça da luta dos negros pela liberdade. A partir daí, em 1971, foi comemorado o primeiro Dia do Negro. Mas foi apenas em 2011 que o Dia da Consciência Negra foi instituído oficialmente no país.
Para marcar o aniversário da Aurora, está sendo preparado um livro com essa história dos 150 anos, para documentar essas histórias de luta. Um dos organizadores da obra, o servidor público aposentado Jaime Benedito Alves Nuncia, de 74 anos, diz que "o Dia da Consciência Negra deve ser entendido como uma conquista. Porém, para termos uma sociedade sem racismo, discriminação ou preconceito precisamos continuar batalhando em diversas frentes, principalmente no campo político."
Jaime, autor de seis livros sobre a negritude, diz que o principal problema enfrentado pelos negros hoje no Brasil é o racismo estrutural, definido por ele como estruturas — públicas, empresas e universidades, por exemplo — que "não permitem ou falseiam o ingresso do negro".
A Sociedade Beneficente e Cultural Floresta Aurora está localizada na Estrada Afonso Lourenço Mariante, número 437. A estrutura para os frequentadores inclui dois salões, um para 280 pessoas e outro para 70, um quiosque para 150 pessoas, duas piscinas e um campo de futebol. Interessados podem virar sócios ao pagar uma taxa e mensalidade de R$ 50; há também a possibilidade de contribuir com a organização com R$ 60.
A adesão pode ser feita neste link.
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