Manuscrito jesuíta descoberto em Panambi (RS) revela dados históricos

A coluna do jornalista Juremir Machado, no site Matinal Jornalismo, traz detalhes sobre a descoberta de um manuscrito jesuíta do século XVIII com estudos de astronomia de Buenaventura Suárez. O documento foi encontrado em Panambi pelo irmão marista Edison Hüttner, coordenador do Projeto de Arte Sacra Jesuítico-guarani (CNPq/PUCRS). O achado rendeu um artigo publicado na revista acadêmica Visioni LatinoAmericane: "A astronomia identificada no Manuscrito se apresenta como 'astronomia suarense missioneira' elaborada por Buenaventura Suárez (americano), dentro de uma redução, com um centro astronômico construído com materiais locais, com ajuda de índios. O astrônomo divulga nas Reduções a arte de observar estrelas, a arquitetura astronômica, os signos do zodíaco; em outras palavras, os índios tinham conhecimento de seu signo zodiacal". 

Leia trechos da coluna depois da foto. E no link no final do post você confere a coluna na íntegra.

Foto: Edison Hüttner

Edison Hüttner, irmão marista e coordenador do Projeto de Arte Sacra Jesuítico-guarani (CNPq/PUCRS), professor e doutor pela Universidade Jesuíta de Roma, é especialista na cultura e na história das Missões Jesuíticas. As suas pesquisas têm revelado aspectos e obras que enriquecem o conhecimento sobre essa experiência que marca a história do Rio Grande do Sul, da Argentina e do Paraguai. Desta vez, ele localizou, em Panambi, RS, um manuscrito jesuíta do século XVIII com estudos de astronomia de Buenaventura Suárez. Esses textos eram livros feitos à mão por diferentes indígenas. Objeto e conteúdo são fantásticos. Entra-se num mundo de conhecimento e arte extraordinários. O manuscrito foi herdado por Liane Janke, que vivia em Posadas, na Argentina, quando da morte do seu marido.

Irmão Edison e sua equipe, Eder Abreu Hüttner, Fernanda Lima Andrade e Rogerio Mongelos, publicaram artigo sobre essa descoberta na revista acadêmica Visioni LatinoAmericane. O texto mostra Suárez estudando com guaranis os céus das Missões para, com ajuda da astronomia, marcar as distâncias entre as 30 reduções jesuíticas da América do Sul. É fascinante pela erudição e pela vontade de saber. A conclusão do artigo dá uma boa ideia do valor do manuscrito:

“O Manuscrito não é só uma ideia, mas uma obra de couro, tinta e papel, escrita por índios e jesuítas nas Reduções do século XVIII. O Manuscrito codificou o conhecimento adquirido na Europa e nas Reduções em linguagem biblingue espanhol/latim, com regras de escrita, espaçamento das linhas e margens, com boa caligrafia. Caligrafia e conhecimento tinham a mesma proposta: aprendizagem contínua, embelezamento em todas as áreas. Os jesuítas e índios tinham em mãos um Manuscrito contendo as várias áreas do conhecimento que possibilitou a compreensão de seu mundo e de seu tempo.

Tinham em mãos: altos estudos de teologia, cultura geral, missões dos jesuítas na China e Japão, sobre os santos católicos, os índios sabiam seu signo zodiacal (ocidental) e a localização de sua Redução (astronomia), em rede com as outras. A astronomia identificada no Manuscrito se apresenta como “astronomia suarense missioneira” elaborada por Buenaventura Suárez (americano), dentro de uma redução, com um centro astronômico construído com materiais locais, com ajuda de índios. O astrônomo divulga nas Reduções a arte de observar estrelas, a arquitetura astronômica, os signos do zodíaco; em outras palavras, os índios tinham conhecimento de seu signo zodiacal.

É fascinante. A astronomia ‘tocou’ em cada Redução, registrando as coordenadas geográficas que as localiza no mapa e na mente das populações missioneiras. E, assim como a astronomia, a arte de ler e escrever, de fascinar-se com a história, a religião e cultura de outros povos, tocou. A visão do mundo depende do ângulo que escolhemos, da tradição com a ciência, e suas contínuas metáforas. A leitura do Manuscrito nos inspira a novas interpretações, a partir de cada tema e da astronomia de localização de uma redução e seu contínuo significado em rede”.

Pesquisar pode ser apaixonante. Abre janelas para o universo.

Leia a coluna do Matinal Jornalismo aqui



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