ESTUDO: Semana reduzida de trabalho reduz esgotamento profissional em 71%

A semana de quatro dias de trabalho tem resultado aprovado: reduz burnout (esgotamento profissional), aumenta produtividade e aumento da receita. Foi o que mostrou um estudo feito no Reino Unido com 61 empresas e 2,9 mil funcionários. Até o momento, esse é o maior experimento já feito sobre a semana mais curta de trabalho. 

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Veja o resultado da pesquisa feito pela organização ativista 4 Day Week Global, pelo instituto de pesquisa Autonomy e por pesquisadores do Boston College e das universidades de Cambridge e Oxford:

  • 40% das pessoas disseram que se sentiram menos estressadas
  • 71% disseram que o nível de burnout diminuiu
  • A receita aumentou 35% em média quando comparada com um período semelhante dos anos anteriores

O que é a semana de quatro dias de trabalho?

Trabalhar quatro dias por semana sem ter o salário reduzido pode ser a nova tendência do mercado de trabalho. O motivo? Oferece bem-estar, qualidade de vida e melhora a produtividade dos funcionários. E já tem empresas — no Brasil e em outros países — que adotaram o modelo de trabalho (entenda mais abaixo). E não é à toa. Cada vez mais as pessoas optam em trabalhar para empresas que oferecem flexibilidade. Uma pesquisa realizada pelo International Workplace Group (IWG), publicada em 2019, por exemplo, mostra que 83% dos profissionais são mais produtivos em uma rotina flexível.

Agora, a novidade mais recente é que desde junho de 2022, o Reino Unido está testando a semana de trabalho mais curta. A ideia é fazer a redução de jornada sem cortar o salário e, como consequência, o bem-estar e a produtividade dos profissionais devem aumentar. Além disso, é uma forma de reduzir a pegada de carbono das companhias. Outra expectativa é atrair e reter talentos, já que em tempos de Great Resignation tem se tornado um desafio para empresas.

Vantagens de trabalhar por quatro dias

Ser workaholic — viciado em trabalho — ficou no passado. Ao menos é o que mostra um teste realizado na Islândia em que os profissionais receberam o mesmo salário por menos horas de trabalho. O resultado foi surpreendente: os trabalhadores relataram que o bem-estar e o equilíbrio entre vida profissional e pessoal aumentaram. A produtividade, por sua vez, manteve a mesma e, em alguns casos, aumentou. 

O estudo foi realizado com 2.500 funcionários — cerca de 1% da população ativa do país — entre 2015 e 2019 e foi conduzido pela Câmara Municipal de Reykjavik e pelo governo nacional. O resultado vai ao encontro com a pesquisa global realizada pela OMS (Organização Mundial da Saúde) em parceria com a OIT (Organização Internacional do Trabalho) em que mostra que as jornadas excessivas de trabalho estão matando milhares de pessoas por ano.

Além disso, segundo Marta Pimenta de Brito, professora e psicóloga especialista clínica e trabalho, outras vantagens são estresse reduzido, menor risco de burnout e mais tempo para ficar com a família. “Também melhora os padrões de sono e tem mais tempo para praticar exercício físico. […] Na minha atividade clínica diária — com pacientes em que atendo no consultório e das empresas que acompanho —, noto que no dia a dia agitado que as pessoas têm vivido, elas sentem, muitas vezes, medo de parar. Muitos até têm medo do silêncio.” Desta forma, a semana de quatro dias pode ser uma boa alternativa para o bem-estar.

Desvantagens da proposta

Há o risco de acúmulo de horas nos dias trabalhados. Por exemplo, se o funcionário tem uma demanda grande de trabalho, será muito difícil que ele consiga se ajustar à semana de quatro dias. Por isso, é importante alinhar o volume de trabalho do profissional com o benefício oferecido. Outro ponto, segundo Marta, é não usar o dia livre para usar eletrônicos. “Coisas simples como apreciar a brisa do mar, os passarinhos ou convidar alguém para almoçar pode passar completamente despercebido se o foco for o smartphone”, diz ela.

Experiência nos EUA

Iniciativa inédita nos Estados Unidos. Maryland, estado americano, propôs um novo programa de subsídios para empresas que adotarem a semana de trabalho de 4 dias. 

O objetivo é incentivar a flexibilidade e proporcionar mais satisfação no trabalho – o que consequentemente aumentaria a produtividade das pessoas.

O projeto de lei mostra que o estado americano gastaria no total em crédito US$ 750 mil por ano durante 5 anos para ajudar as empresas a terem uma semana de trabalho de 4 dias. Além disso, eles vão gastar mais US$ 250 mil dólares para cuidar do programa.

A proposta de lei surge em um momento em que trabalhadores estão buscando manter um equilíbrio saudável entre suas vidas profissionais e pessoais, diante da atual situação de mudanças nos padrões do ambiente de trabalho.

"Eu realmente acho que estamos à beira de um cenário ganha-ganha aqui. (...) Podemos oferecer maior qualidade de vida, mais tempo livre para os trabalhadores em Maryland e, ao mesmo tempo, não prejudicar os resultados das empresas e talvez até aumentar sua lucratividade”, diz Vaughn Stewart, um dos patrocinadores do projeto, ao Business Insider.

Quais as empresas que adotaram a semana de quatro dias?

Além da Islândia, países como Nova Zelândia e Japão estudam a semana de quatro dias de trabalho. A Unilever, por exemplo, desde dezembro do ano passado testa a modalidade com cerca de 81 funcionários da Nova Zelândia. “A iniciativa mostra a ambição da Unilever de melhorar o bem-estar tanto dos funcionários como da empresa. […] Nosso objetivo é medir o desempenho na produção, não no tempo de trabalho. Acreditamos que as velhas formas de trabalhar estão desatualizadas e não são mais adequadas", diz em comunicado Nick Bangs, diretor administrativo da Unilever Nova Zelândia. A experiência deve ter a duração de um ano e os colaboradores têm “autonomia e flexibilidade determinando quando e como trabalharão melhor dentro da nova estrutura.”

Na Microsoft Japão, os testes foram feitos em agosto de 2019. Funcionou assim: durante um mês, a companhia não tinha expediente às sextas-feiras. Para não sobrecarregar os demais dias da semana, as reuniões ficaram restritas a uma duração máxima de 30 minutos. Como resultado, a produtividade dos funcionários aumentou quase 40%. A movimentação aconteceu dentro de um cenário em que o Japão tem uma das horas de trabalho mais longas do mundo. “Ao implementar novas práticas internas para promover a escolha da vida profissional, desafiamos todos os funcionários a trabalhar em um curto espaço de tempo, descansar e aprender bem para melhorar ainda mais a produtividade e a criatividade”, disse a empresa em nota.

No Brasil, a startup Crawly, fundada em 2017, já nasceu com a modalidade de semana de quatro dias de trabalho. “Quando começamos, ainda não tinha como competir em termos de salário com grandes corporações. Então, decidimos inovar no modelo de trabalho. […] Já sabíamos, aliás, que o rendimento não cai, ao contrário, aumenta na jornada reduzida”, disse em entrevista à StartSe Thiago Veloso, head de marketing da empresa. 

Na companhia, os funcionários não trabalham às sextas-feiras. “É um dia que as pessoas podem resolver as tarefas pessoais sem pressão”, diz ele. “Para a gente, é um baita diferencial competitivo no ato da contratação.”  “O feedback dos funcionários é positivo. Eles contam que têm mais qualidade de vida”. Para evitar o acúmulo de trabalho nos demais dias, os times têm reuniões diárias e semanais em que juntos estabelecem as demandas e as prioridades. “A gente usa muito a metodologia ágil”, afirma Veloso.

A Zee.Dog, empresa de produtos pet, adotou a modalidade há pouco mais de um ano. “A gente decidiu trazer ao Brasil essa ideia de semana de trabalho reduzida, a qual nomeamos #NoWorkWednesday. Diferente dos japoneses, que prolongam o fim de semana com o day off, nossos funcionários tiram as quarta-feiras de folga. A ideia permite que cada um aqui se organize nos 4 dias para entregar suas tarefas”, diz a companhia em comunicado. A regra muda na semana com feriado. 

O que diz a legislação brasileira?

“De acordo com a legislação, a regra é de que a jornada seja de 8 horas diárias e 44 horas semanais. Mas nada impede que seja menor do que isso. A legislação só impede o que for maior, menor não”, diz Lucas Camargo, advogado trabalhista sênior do Pinheiro Neto. 

O mesmo vale para a jornada parcial — que surgiu com a reforma trabalhista de 2017 — em que a carga horária de trabalho é de até 30 horas semanais sem possibilidade de hora extra ou 26 horas semanais, com até 6 horas extras pagas. Isso significa que para a jornada parcial, a empresa pode liberar a semana de quatro dias, mas o profissional, em hipótese alguma, pode ultrapassar o limite de horas previstas no contrato. “Não pode ter hora extra além do que o regime permite”, diz Camargo.

O salário pode ser reduzido?

Caso a empresa queira reduzir o salário proporcional a jornada de horas, Camargo diz que precisa fazer uma negociação com o sindicato. “Não é aconselhável e nem seguro fazer negociações individuais”, diz o especialista. 

A redução deve ser feita para todos os funcionários?

“Não. A empresa não precisa adotar a semana de quatro dias de trabalho para todos os funcionários. Nada impede que a companhia tenha regimes de trabalho específicos para funções diferentes. […] O cuidado que a empresa precisa ter é: se os colaboradores exercerem a mesma função, não pode liberar a semana de quatro dias de trabalho para alguns deles, e outros não. Mas para áreas e funções distintas é possível.” 

Dica: O especialista aconselha que “a empresa precisa avaliar bem antes de implementar o benefício, pois, se feito, não pode ser alterado depois. Seria necessário, em tese, uma série de novas negociações com o sindicato.”

Os brasileiros acreditam na semana de quatro dias?

Uma pesquisa feita pelo Instituto Ipsos mostrou que apenas 3 em cada 10 brasileiros acreditam na semana de quatro dias de trabalho. 

  • O estudo “Global Advisor – Predictions 2023" foi feito em 36 países 
  • Apenas 34% dos brasileiros acreditam na semana mais curta de quatro dias de trabalho
  • O número do Brasil vai ao encontro com a média global, que é de 37%
  • Os que mais acreditam na redução são os moradores dos Emirados Árabes Unidos, com 68%. Índia, com 63%, e Indonésia, com 54%, completam o topo da lista.


Com informações do site StartSe



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