SUA SAÚDE: Laboratórios colhem primeiros resultados positivos com vacinas combinadas para gripe e Covid-19

Um dos principais trunfos para conquistar altas taxas de vacinação é justamente a facilidade de acesso às doses. De olho nesse aspecto — e também na facilidade logística para o transporte — laboratórios de desenvolvimento de imunizantes passaram a anunciar que trabalhariam em vacinas cujo escopo mira em doenças respiratórias amplamente presentes: a Covid-19 e a gripe, causada pelo vírus influenza. Pfizer, Moderna e Novavax estão entre os desenvolvedores.


Roverna Rosa/Agência Brasil

Os resultados iniciais começaram a sair. A primeira delas, a Novavax, obteve resultados positivos no começo do mês. De acordo com análises de fase 2 (quando já se considera um número volumoso de voluntários e há segurança do fármaco, além de seu potencial funcionamento), o antígeno é capaz de reproduzir resposta imunológica nos pacientes — ou seja, permite que o organismo de quem recebeu a agulhada se proteja contra os dois vírus, a princípio.

Uma fase mais longa e completa deve ser iniciada para que o fármaco chegue às agências reguladoras e, por fim, aos braços dos pacientes. Filip Dubovsky, presidente de pesquisa e desenvolvimento da empresa, afirmou em comunicado que “as respostas imunológicas foram robustas e os dados que compartilhamos hoje aumentam significativamente a probabilidade de sucesso da Fase 3”.

Também caminha adiante a vacina da Pfizer. A fase 1 dos estudos foi anunciada em novembro do ano passado. Ao EXTRA, a farmacêutica afirmou que planeja ter resultados iniciais em “alguns meses”. A vacina levará em conta quatro cepas da influenza e mais a vacina bivalente adaptada contra a Covid-19, com atualização às sublinhagens BA.4 e BA.5, da variante Ômicron. O imunizante em questão recebeu uma importante chancela da Food And Drug Administration (FDA), a agência que regula os medicamentos nos Estados Unidos. Trata-se do chamado “fast track”. Ela agiliza o desenvolvimento e a autorização de fármacos destinados a tratar doenças graves ou com poucas opções terapêuticas disponíveis. Passada a fase de autorização nos Estados Unidos e na Europa, a ideia é que a candidata à vacina seja encaminhada para o crivo da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Ainda em planejamento para entrar no mercado brasileiro, por meio de uma parceria com o laboratório Zodiac, a farmacêutica Moderna também tem uma candidata a imunizante que combina o combate à gripe e à Covid.

— Nosso plano é ter uma única vacina, tomada anualmente, que proteja contra as variantes circulantes de Covid-19, além do Vírus Sincicial Respiratório (VSR) e das linhagens da gripe (para Influenza A e B) — afirma Rolando Pajon, diretor médico da Moderna para a América Latina: — Neste momento estamos na fase 1 testando combinações.

No caso do Brasil, o Instituto Butantan chegou a aventar a possibilidade de que a Butanvac, dedicada à Covid, tivesse desdobramentos que abrangessem as cepas da gripe. O estudo ainda está em fases iniciais.

Difícil combinação

Parte da dificuldade para desenvolver um imunizante com tamanha capacidade de proteção é justamente controlar estudos clínicos que combinem tantos resultados desejados: a proteção a duas, ou três diferentes doenças. Além, é evidente, da segurança. Há ainda a necessidade de se atualizar a cepa a cada temporada, uma vez que o vírus sofre mutações constantes, dada sua necessidade de adaptação ao ambiente. Pajon, da Moderna, diz que no caso do desenvolvimento de uma candidata de MRNA Mensageiro, a atualização poderá acontecer de maneira mais rápida: em três meses de trabalho em laboratório, enquanto para outras vacinas a atualização leva seis meses.

Salmo Raskin, médico geneticista e diretor do laboratório Genetika, em Curitiba, ainda cita outros percalços que essas possíveis candidatas podem sofrer no caminho. Ele explica que é “completamente atípico” chegar ao desenvolvimento de um imunizante em tempo inferior a um ano, como foi o caso da vacina para Covid-19.

— Por conta da emergência da saúde, muito foi investido no desenvolvimento de imunizantes. Tanto na área financeira quanto no quesito de laboratórios (cujo escopo não era da área de doenças respiratórias) que passaram a se ocupar com a doença. Agora, é normal que as coisas levem mais tempo — afirma o especialista.

Convém lembrar que, enquanto a vacina capaz de proteger contra tantos vírus ainda não chega aos postos de saúde brasileiros, não há restrição para que se tome a vacina da Covid-19 e da gripe em uma única visita às unidades de saúde. Atualmente, estão disponíveis a todos os brasileiros com mais de seis meses de idade a vacina da gripe para esta temporada de inverno. A autorização ocorreu na esteira das baixas coberturas da imunização contra a doença, realizada no SUS para pacientes em que há indicativo de casos graves (caso das crianças pequenas, idosos e dos imunocomprometidos). Ao mesmo tempo, os maiores de idade também podem tomar uma agulhada da vacina bivalente contra a Covid-19, cuja proteção foi atualizada para a cepa Ômicron, mais prevalente no país ao longo dos últimos meses.

Fonte: Extra



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