Pesquisadora gaúcha cria embalagem biodegradável à base de colágeno e óleos essenciais

Apenas 9% das 300 milhões de toneladas de resíduos plásticos produzidos anualmente no é reciclado. O dado de um relatório do Programa das Nações Unidas do Meio Ambiente (Pnuma) reforça a necessidade de projetos como o de uma pesquisadora da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), que uniu colágeno aos óleos essenciais de orégano e alecrim para criar uma embalagem biodegradável para carnes.

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Com o objetivo de diminuir os impactos ambientais, a cientista de alimentos Suslin Raatz Thiel, de 30 anos, natural de Canguçu, na Região Sul do RS, explica que o protótipo ainda está em escala laboratorial, mas pode ajudar a diminuir o uso de embalagens plásticas.

“A ideia era fazer um filme resistente, com as características para poder ser usado como uma embalagem de alimentos,” comenta.

Segundo a pesquisadora, os óleos essenciais, aplicados nas embalagens, podem evitar contaminações e prolongar a vida útil dos produtos.

A pesquisa foi feita durante o doutorado de Suslin em ciência e tecnologia dos alimentos. Durante sua graduação em química de alimentos pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel), a pesquisadora já trabalhava com carnes, o que ajudou na escolha do produto. Já a decisão de usar orégano e alecrim foi por serem temperos conhecidos na culinária brasileira.

“Eu trabalhei com a extração de óleos essenciais. As pessoas os conhecem na forma de aromaterapia ou de difusores que a gente coloca em casa, mas são muito interessantes e têm propriedades biológicas que são muito estudadas", fala Suslin.

A produção do filme para embalar as carnes de forma ecologicamente correta começou a partir de experimentos. A primeira carne escolhida para aplicação do produto foi a mortadela, por ser um produto mais suscetível à contaminação durante o fatiamento. A pesquisadora conta que chegou a testar amido, casca de arroz, caroço de abacate e outros subprodutos (termo utilizado para designar elementos secundários de alguma produção, sobras que não são usadas) para a criação.

Sua primeira orientadora, Rosa Cristina Prestes Dornelles, então, sugeriu usar fibra de colágeno como solução. Segundo a pesquisadora, a extração de colágeno já realizada no laboratório da universidade facilitou a construção do projeto. Depois, Renius Mello e Mari Silvia de Oliveira auxiliaram na orientação do estudo.

“O colágeno é uma proteína animal, uma das mais abundantes. A extração é feita de ossos e cartilagem, subprodutos que sobram no processamento e que não são utilizados para a alimentação humana,” explica.

Como funciona a produção?

Para a produção do filme, é necessário pesar a fibra de colágeno e um material com função semelhante ao detergente, para misturar água e óleo. Depois, se adiciona uma porção do plastificante glicerol, que modifica a elasticidade e resistência. Em seguida, é acrescentado o álcool polivinílico, um polímero sintético, biodegradável e solúvel em água, para depois aplicar a água e corrigir o pH da solução filmogênica com ácido acético. Com base nisso, acontece a mistura de todos os ingredientes. Os óleos essenciais são colocados em uma placa e em seguida em uma estufa, onde secam e viram filme.

De acordo com a Suslin, a produção é finalizada em 24h , pois o processo de secagem é demorado. “Ele ainda é um protótipo em escala laboratorial. Mas, existem equipamentos no Brasil para serem aplicados em grande escala,” fala.

Vida útil

Suslin revela que foi realizado um teste de biodegradabilidade com as embalagens. No processo, foram enterrados na terra pedaços do filme junto com o composto vegetal. O processo foi acompanhado durante nove dias e, depois de três dias, as embalagens começaram a se desintegrar. “Pode-se dizer que, em torno de um mês, o filme já teria se misturado com a terra,” finaliza.

Fonte: G1


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