Cresce a parcela de trabalhadores com mais de 45 anos

Segundo levantamento da Bain, funcionários com mais de 45 anos de idade eram 24% do total de trabalhadores em 2001. Em 2021, essa parcela representava 32% da força de trabalho.

A força de trabalho brasileira está mais velha. Essa é a conclusão de uma nova pesquisa realizada pela Bain & Company, obtida com exclusividade pelo Valor, que analisou dados de cerca de 2 mil profissionais do país.

Veja detalhes da pesquisa depois da imagem.

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Segundo o levantamento, funcionários com mais de 45 anos de idade eram 24% do total de trabalhadores em 2001. Em 2021, vinte anos depois, essa parcela representava 32% da força de trabalho. Já a proporção de trabalhadores mais jovens diminuiu no período analisado. A parcela com até 24 anos de idade caiu de 26% do total para 17%. Também diminuiu a participação da faixa etária entre 25 e 34 anos, de 27% para 26%. Aqueles com idade entre 35 e 44 anos, que antes representavam 23% do total, em 2021 eram 25%.

Para Alfredo Pinto, presidente da Bain na América do Sul, o envelhecimento populacional é o principal fator que contribui para ampliar a parcela de trabalhadores entre 45 e 64 anos. Ele menciona dados do IBGE, que mostram que, no Brasil, o número de pessoas com 60 anos ou mais aumentou 39,8% entre 2012 e 2021. “Então é natural que cresça o volume de pessoas nessa faixa etária que sigam atuantes”, explica.

Uma das consequências desse cenário é, em diversos países, os governos empurrarem para frente a idade mínima de aposentadoria. Com isso, diz Alfredo Pinto, as pessoas vivem mais e se planejam para permanecer no mercado de trabalho por mais tempo. “Nos Estados Unidos, por exemplo, 41% dos trabalhadores têm a expectativa de trabalhar até depois dos 65 anos – há 30 anos, essa fatia era de 12%”, comenta. “Além da população estar envelhecendo e se manter no trabalho por mais tempo nos últimos 20 anos, a proporção de trabalhadores jovens diminuiu rapidamente, o que contribui para que as faixas etárias mais altas se mantenham ativas.”

Na visão do executivo, com o envelhecimento da população e a escassez de mão de obra qualificada, o mercado terá de encarar o preconceito em relação à idade que é visto no ambiente corporativo, chamado de etarismo , e passar a valorizar os profissionais com idades mais avançadas. “Nesse cenário, contratar esse perfil de colaborador será uma solução que vai contribuir para a produtividade da empresa e, consequentemente, mudar a percepção sobre as faixas etárias mais altas.”

Essa diversidade de gerações na força de trabalho é positiva, na análise do presidente da consultoria. “Estudos da Bain indicam que empresas mais diversas são ambientes nos quais os colaboradores se sentem mais incluídos e onde a pluralidade de ideias pode gerar soluções mais criativas”, afirma. “Quanto mais equilibrada a composição de gerações, mais diversificados serão os perfis e as contribuições dos colaboradores, o que ajuda a alcançar uma maior produtividade e reforça a cultura organizacional.”

Com o aumento de trabalhadores nas faixas etárias mais altas, um fator se destaca: a autonomia, que é mais valorizada com o passar dos anos. Trabalhadores com idade maior são mais propensos a buscar essa característica em suas atividades laborais, bem como a realizar atividades que despertem seu interesse e satisfação pessoal. Isso pode estar relacionado ao acúmulo de experiência e ao desejo de contribuir adquiridos ao longo dos anos, analisa a Bain.

Outro aspecto diz respeito à lealdade às empresas. Segundo o levantamento, os brasileiros tendem a ser mais fiéis e comprometidos com as organizações em que atuam conforme aumenta sua idade – índice que alcança 51% dos entrevistados com mais de 55 anos, enquanto somente 40% dos trabalhadores com 18 a 24 anos se consideram fiéis à sua empresa.

Feita em 19 países, a pesquisa detectou que o envelhecimento da força de trabalho é uma tendência global. Nos países do G7, os trabalhadores com 55 anos ou mais vão ultrapassar 25% da força de trabalho até 2031, quase 10 pontos percentuais a mais do que em 2011. O Japão é um caso extremo: em 2031, os japoneses com 55 anos ou mais serão cerca de 40% da força de trabalho. Para efeito de comparação, no Brasil, em 2021, o grupo “55+” representava 15% da força de trabalho.

“Isso não ocorre apenas nos mercados desenvolvidos”, pontua Alfredo Pinto. “A população idosa da China, com 65 anos ou mais, dobrará até 2050. No Brasil, a proporção de trabalhadores com mais de 55 anos está aumentando gradualmente e se aproximando do mesmo volume da faixa entre 15 e 17 anos. Globalmente, aproximadamente 150 milhões de empregos serão transferidos para trabalhadores com 55 anos ou mais até o final da década, estima a pesquisa da Bain.”


Fonte: Valor Econômico

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