Projeto da UFRGS oferece próteses gratuitas a pacientes que perderam partes do rosto

Um projeto desenvolvido na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) está melhorando a qualidade de vida de pacientes que perderam partes do rosto devido a acidentes ou doenças. Um grupo formado por professores e pesquisadores da Faculdade de Odontologia criou um programa com recursos próprios e que desenvolve próteses gratuitas para pacientes.

O acesso está disponível pelo Sistema Único de Saúde (SUS), e a fila de espera, que contempla pacientes de todo o Brasil, é grande.

Um dos pacientes que já teve acesso ao projeto é o aposentado Ricoberto Bohn, morador do interior de Feliz, a cerca de 85 km de Porto Alegre. Ele teve o nariz removido.

Ricoberto Bohn recebeu uma prótese para o nariz — Foto: Reprodução / RBS TV


A perda do órgão aconteceu após o aposentado descobrir um câncer de pele. A remoção ocorreu por recomendação médica, antes que o idoso corresse o risco de perder todo o rosto.

"Isso foi um baque muito muito forte. Ele olhou para mim e disse 'meu Deus, eu vou perder o meu nariz'. E eu disse: 'mas tu não vai perder a vida'", comenta a esposa de Ricoberto, Lucia Bohn.

Ricoberto e outros cerca de 150 pacientes foram atendidos gratuitamente na UFRGS, onde conheceram o trabalho de professores e alunos do curso de Odontologia e, mais especificamente, do Laboratório Bucomaxilofacial da Universidade.

No local, tiveram acesso a próteses confeccionadas manualmente e que podem ser removidas facilmente pelos pacientes. Elas são feitas de silicone.

"Realmente, é um artesanato. A gente faz a moldagem dos pacientes e, para construir essas próteses, a gente faz do zero. Então a gente tem aquela conversa com o paciente para entender com a necessidade dele o que ele quer fazer diferente", relata a estudante Isadora Carvalho.

Os alunos e professores que trabalham no projeto não recebem nada por isso. Boa parte das próteses foi desenvolvida com material doado por integrantes da iniciativa.

Mudança na autoestima

De acordo com a docente responsável pelo programa, um dos aspectos mais importantes do projeto é o impacto sobre a autoestima dos pacientes.

"São pacientes que chegam emocional e fisicamente abalados em função dessas cirurgias. Tanto as cirurgias por neoplasias malignas ou câncer, quanto traumas ou acidentes automobilísticos. Também tem muito paciente que nasce com deficiência congênita", conta Adriana Corsetti, professora da UFRGS e líder do programa.

A vendedora Adriana dos Santos Teles, por exemplo, recebeu uma prótese ocular. Ela perdeu a visão após um deslocamento de retina.

"Eu olhava no espelho e primeiro eu queria minha autoestima", relembra Adriana.

Quem também foi atendida foi Rosa Saibro. Após sentir uma dor no olho e passar por exames, a aposentada recebeu a notícia de que tinha um câncer no globo ocular. A doença fez com que ela tivesse que retirar todo o olho e as pálpebras.

"Vim para casa, chorei muito. Fiquei muito abatida para falar para meu filho, para contar tudo", lamenta Rosa.

No programa, Maria Borges recebeu um enchimento no céu da boca. A aposentada teve um câncer conhecido como carcinoma, que começou na gengiva.

“É uma vida nova. Pra comer, pra viver, né?”, celebra Maria.

A fila de espera

Por todos esses fatores, os participantes relatam que a fila de espera é grande para atender novas pessoas. O grupo recebe pedidos de todo o Brasil. Atualmente, cerca de 100 pessoas estão na fila.

"A oferta é muito menor do que a procura. Nós temos uma demanda reprimida extremamente grande e a gente de fato não dá conta do que tem que ser feito. A gente gostaria que a gente conseguisse atender muito mais as pessoas do que de fato elas estão sendo atendidas", comenta Susana Maria Werner Samuel, diretora da Faculdade de Odontologia da UFRGS.

A esperança é pelo financiamento do programa, para que a fila de espera seja zerada.

"Sempre digo que meu sonho é ter um laboratório montado, ter o material suficiente para poder aumentar a demanda desses pacientes e a gente conseguir atender mais gente", conta Corsetti, que viaja o Brasil levando o conhecimento e as práticas desenvolvidas em Porto Alegre.

Leia a notícia original no site G1

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