ARTIGO: "Escola aberta para a cidadania", por JOSÉ FORTUNATI

Chegamos ao oitavo texto da nossa série de artigos publicados todas as semanas aqui na Rede #AtitudePositiva, dentro do CONEXÃO EDUCAÇÃO, nosso maior projeto de conteúdo realizado em nossa plataforma de boas notícias em nossos mais de cinco anos de existência. Convidamos também para nos trazer suas ideias sobre o tema alguns nomes que ocuparam a cadeira de titular da Secretaria Estadual da Educação do RS. Em diferentes momentos e contextos, mas quase sempre enfrentando os mesmo impasses na educação, nossos convidados trarão suas lições e experiências aqui neste espaço. O primeiro convidado é o advogado e professor, deputado estadual e federal, vereador, vice-prefeito e Prefeito de Porto Alegre José Fortunati. Ele atuou como secretário na pasta da educação do Rio Grande do Sul de 2003 a 2006.

Junte-se a nós nesta emocionante iniciativa para moldar um futuro brilhante para a educação. Boa leitura!

José Fortunati - Divulgação


Escola Aberta para a a Cidadania 

Em dezembro de 2002, pouco dias após ter sido convidado pelo Governador-eleito Germano Rigotto para ocupar a Secretaria de Estado da Educação do RS, recebi um telefonema da amiga Marlova Jovchelovitch Noleto afirmando que gostaria de me dar um presente que muito contribuiria com o meu trabalho na coordenação da educação do Rio Grande do Sul. Tratava-se de um convite para conhecer o projeto Escola Aberta que havia sido implantado na rede pública escolar de Pernambuco.

Logo após a posse na antiga SEC, acompanhado por uma equipe de técnicos, viajei para Pernambuco onde conheci o referido projeto. Tratava-se de uma ideia aparentemente simples, mas genial na sua concepção e complexa na sua aplicação.

Sabemos que é no ambiente escolar que o aluno tem as condições para desenvolver o aprendizado necessário para enfrentar os desafios da vida e, é lá também, que ele amplia as possibilidades de se socializar com outras pessoas e a desenvolver habilidades fundamentais para toda a vida. Sabemos que a escola não é a única responsável para a formação do cidadão, mas ela deve oferecer todo o suporte para que ele se torne ético e exerça a cidadania na sua plenitude.

O que se constata, especialmente em relação às escolas públicas, é que em muitas comunidades, especialmente nas mais carentes, é que a escola é o único equipamento público existente, já que não existem nas proximidades áreas verdes, quadras de esportes, bibliotecas, espaços para a prática da cultura. E estes espaços construídos e mantidos pelo dinheiro público acabam fechando as suas portas durante o final da semana, privando os seus próprios alunos e a comunidade do entorno de usufruírem de um espaço diferenciado e qualificado.

O projeto Escola Aberta nada mais é do que uma proposta de abertura do espaço escolar aos finais de semana oferecendo oficinas de reforço escolar, informática, cultura e esporte para os alunos e para a comunidade como um todo.

Assim que retornamos de Pernambuco, e com o aval do governador Germano Rigotto, começamos a planejar o “Projeto Escola Aberta para a Cidadania” a ser implementado em escolas públicas do Estado localizadas nas comunidades mais carentes das cidades do Rio Grande do Sul. Naturalmente, a proposta no início resultou em muita apreensão por parte das direções das escolas pois havia o receio de que a abertura dos espaços escolares nos finais de semana para a comunidade poderia resultar em confusão e depredação dos equipamentos existentes.



Aos poucos fomos convencendo as direções de várias escolas a aderirem ao projeto. Nunca se tratou de impor a proposta pois isto significaria que ela não iria prosperar. Contando com uma pequena equipe de coordenação do Projeto na Secretaria Estadual começamos a emular as comunidades escolares a se organizarem para este novo momento. Incentivamos profissionais de várias áreas a doarem um pouco do seu tempo aos finais de semana para coordenar oficinas para as comunidades. Desta forma, fomos gradativamente conseguindo que atletas do basquete, do vôlei, do futsal, de dança (folclórica, de rua, clássica), profissionais da

informática, de reforço escolar, de xadrez, de trabalhos manuais, entre tantas atividades, começassem, como voluntários, a compartilhar as suas habilidades com as comunidades das escolas públicas.

Em pouco tempo, conseguimos a adesão de mais de 300 escolas públicas distribuídas pelas principais cidades do estado que passaram a adotar o projeto Escola Aberta para a Cidadania com grande êxito. Desta forma o Projeto tornou a escola num espaço alternativo para o desenvolvimento de atividades de formação, cultura, esporte e lazer não somente para os alunos da escola, mas para toda a comunidade do entorno nos finais de semana.

Se inicialmente havia a preocupação de que a abertura das escolas nos finais de semana poderia trazer confusão e depredação dos equipamentos e da própria escola, com o fortalecimento do Projeto Escola Aberta para a Cidadania ficou demonstrado que na medida em que a comunidade foi se apropriando do espaço escolar, a defesa e manutenção dos equipamentos foi sendo ampliada, a população do entorno começou a valorizar um espaço que passou a ser considerado seu também e a auto estima dos alunos cresceu e, como demonstra o estudo realizado pela UNESCO ao longo do Projeto, o desenvolvimento escolar foi elevado de uma forma impressionante.

Em face dos excelentes resultados obtidos nos estados de Pernambuco e no Rio Grande do Sul o Governo Federal, através da Resolução no. 52 do FNDE/MEC, de 25 de outubro de 2004, transforma o Projeto Escola Aberta numa política nacional a ser implementada em todo o território nacional.

Dentro do pressuposto de que a educação precisa se consolidar como um projeto comum da escola e da comunidade tenho a convicção de que o Projeto Escola Aberta para a Cidadania cumpriu exemplarmente com esta missão e muito ajudou a qualificar a educação pública e a inserir a comunidade dentro das nossas escolas e a fortalecer a educação pública do nosso Estado. Certamente, o Projeto ajudou no reconhecimento obtido ao final de 2004 de que o “RS tem as melhores Escolas Públicas de Ensino Médio do País”, como destacou a capa do jornal Zero Hora do dia 16/12/2004.


José Fortunati

Secretário Estadual de Educação do RS (2003-2006), ex-Prefeito, Vereador, Deputado Estadual e Federal




Observação: as opiniões emitidas nos artigos publicados aqui não refletem necessariamente o pensamento editorial da Rede #AtitudePositiva.







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