Empreendedora cria startup para acelerar carreira de atletas negros

Jornalista de formação e atleta amadora, a baiana Mia Lopes, 36 anos, percebeu em 2017 que poderia unir seus talentos nas duas áreas para elaborar uma solução que desse visibilidade ao trabalho de esportistas negros no Brasil. A ideia deu origem à Afro Esporte, negócio que começou com conteúdos produzidos por ela nas redes sociais e que hoje se tornou uma startup especializada na aceleração de carreiras de atletas pretos e pretas, com oferta de consultorias e até com investimento financeiro.


Afro Esporte/Reprodução

A relação com o esporte começou na infância, com o gosto da empreendedora por artes marciais. Ela era apaixonada pelas lutas que assistia no seriado japonês Jaspion, exibido por emissoras brasileiras no fim da década de 1980. O próprio nome adotado pela gestora revela esse amor. No registro, ela foi chamada Janaína, mas adotou o nome Mia inspirada no personagem Miya, mascote que aparece na série. Tornou-se praticante de corrida, muay thai, jump, ciclismo e treino de força.

Quando trabalhou na cobertura jornalística de esportes, avaliou que os espaços na TV não atendiam às demandas de atletas negros, que precisavam tanto de visibilidade quanto de apoio financeiro para seguir se dedicando à atividade.

“Eu recebia pautas de atletas em um contexto de carência de divulgação e de apoio, mas eu não tinha autonomia para fazer isso”, conta. “Então, eu decidi fazer nas minhas redes sociais aquilo que eu não conseguia nos veículos por onde eu passei.”

No seu perfil pessoal no Instagram, ela passou a produzir vídeos contando a história de esportistas negros inspiradores pelo mundo, como a tenista Serena Williams, o piloto Lewis Hamilton e o atleta brasileiro João do Pulo. Logo depois, criou uma conta com o nome Afro Esporte e usou o espaço para cobrir as Olimpíadas de Tóquio, em 2021, com a ajuda de sete colaboradores — o que ajudou o projeto a escalar, virar um portal e oferecer outros modos de suporte aos atletas. “[Foi] uma forma de dizer que existe maneira de gerar receita além de fazer vaquinhas para competir”.

Para tornar a possibilidade real, Lopes buscou parcerias e investiu recursos próprios no negócio com a renda recebida com os trabalhos de publicidade que fazia. Hoje , o serviço principal do hub é a aceleração de carreira para os atletas, com treinamento para redes sociais, capacitações de outra natureza e conexão com marcas do mundo esportivo.

O acesso aos benefícios (cursos, bolsas, consultoria e descontos em produtos esportivos) é dado mediante assinatura mensal, com valor a partir de R$ 49,90. Há também conteúdos gratuitos ofertados para quem não consegue ainda fazer o investimento nos serviços. “Entendemos que somos agenciadores de talentos esportivos”, diz.

Atuação com empresas

A Afro Esporte cria projetos de apoio formativo e financeiro ao atleta como o Afro Esporte Fund, fundo de gerenciamento de carreira, media training e aporte em dinheiro para empreendedores negros do setor esportivo. Há também o Afro Esporte Training, programa de incentivo à prática esportiva destinada ao público corporativo, com o propósito de motivar a adesão ao esporte aliada a diversidade, com programas de treino composto por instrutores negros, LGBTQIAPN+s e com corpos diversos.

A startup disponibiliza consultorias e oficinas para empresas com valores a partir de R$ 4 mil. Com o trabalho, no ano passado, a empresa faturou R$ 63 mil. Ao todo, o negócio já impactou aproximadamente mil atletas e pretende oferecer outras formações no próximo ano, como aulas de inglês, assessoria jurídica e educação financeira.

Em 2024, a startup vai até a França cobrir diretamente as Olimpíadas de Paris e fazer conexão com as marcas do local para ampliar o alcance do apoio aos atletas negros. “Já tivemos muitos feedbacks de que o Afro Esporte tem muito mais chance de crescer fora do Brasil, pois, fora do país, o atleta preto é visto como empresário, empreendedor, agenciador, e isso aqui ainda é muito novo”, comenta. “Então, queremos ir também para fora, para prospectar a nossa atuação”, planeja a empreendedora.

Fonte: PEGN

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