Poeta e negro, Oliveira Silveira é reconhecido como Doutor Honoris Causa pela UFRGS

No Dia Nacional da Consciência Negra, a UFRGS rendeu sua máxima homenagem a Oliveira Silveira (in memoriam), um dos criadores e incentivadores do 20 de Novembro como data comemorativa da identidade, da cultura e da resistência afro-brasileiras. Ainda em 1971, Oliveira Silveira e o Grupo Palmares propuseram a data em referência ao dia da morte, em 1695, de Zumbi dos Palmares, líder do quilombo mais importante do Brasil. A sessão solene de outorga do título, ocorrida nesta manhã na Sala dos Conselhos, buscou registrar na história da Universidade a contribuição de Oliveira Silveira e teve como marca os versos do poeta.

Filha de Oliveira Silveira, Naiara recebeu o diploma representando seu pai/Gustavo Diehl/UFRGS


Foram dois oradores na sessão especial, a docente aposentada Maria da Graça Gomes Paiva e o aluno representante discente no Conselho do Instituto de Letras Wellington Porto. Maria da Graça abordou aspectos da vida, da obra literária e da atuação de Oliveira na mobilização para ampliação da consciência social sobre a questão do negro no Brasil. Ela enfatizou o legado do homenageado que se perpetua, como no exemplo do Sopapo Poético, que surgiu em 2012, após a morte de Oliveira. A professora disse considerar como uma constante na obra do autor a identidade afro-gaúcha. Maria citou, ainda, um trecho da tese de doutorado de Zila Bern, defendida na USP em 1987, em que a autora afirma sobre Oliveira Silveira: “a emergência de uma consciência negra no Brasil que se expressava, sobretudo, através da poesia”. Já finalizando seu pronunciamento a professora faz um chamado à obra de Oliveira Silveira, afirmando que “Cabe a todos nós conhecermos a sua obra para darmos continuidade a sua aspiração ou sonho maior: acabar com as desigualdades étnico-raciais e culturais no Brasil no mundo!”.

Pela primeira vez em muitos anos, a sessão solene do Consun teve um discente na posição de orador. Wellington Porto, estudante do Instituto de Letras, mesma unidade onde Oliveira Silveira faz sua graduação, saudou os presentes enfatizando a presença de pessoas pretas na plateia, ocupando um espaço que, há anos atrás, seria inacessível. “Ao conferir esse título, estamos não apenas homenageando um indivíduo notável, mas também fazendo uma afirmação sobre a importância da representatividade e da promoção da diversidade em todos os níveis da academia. É imperativo reconhecer que as conquistas de Oliveira Silveira não se limitam apenas às suas realizações profissionais, mas também servem como um exemplo inspirador para futuras gerações”, afirmou o estudante, dando ênfase à jornada do poeta, marcada pela determinação, a excelência acadêmica e a paixão pelo conhecimento como impulso a superar obstáculos e abrir caminhos.

Wellington citou o poema Encontrei Minhas Origens, de Oliveira Silveira, como texto que sintetiza o que o poeta representa para os estudantes negros da Universidade: “Encontrei minhas origens; em velhos arquivos/livros; encontrei; em malditos objetos; troncos e grilhetas; encontrei minhas origens; no leste; no mar em imundos tumbeiros; encontrei; em doces palavras/ cantos; em furiosos tambores/ ritos; encontrei minhas origens; na cor de minha pele; nos lanhos de minha alma; em mim; em minha gente escura; em meus heróis altivos; encontrei; encontrei-as enfim; me encontrei.”

Também foi com um poema de Oliveira que a filha Naiara discursou após receber o diploma, representando seu pai. Ela recitou “Vamos juntos! Me dá a mão e vamos juntos! Tua disposição e vamos juntos! Vamos correr nas campinas, vamos lerdear nas areias. Mas juntos, juntos, juntos”. Naira abordou, então, os diferentes significados que a poesia carrega, destacando aspectos da trajetória de seu pai, que contribuiu, aconselhou, ajudou a tantas pessoas. “Me dá a mão e vamos juntos: quem o conheceu sabe o significado desse verso, ele deu a mão, preparou, aconselhou. Nós seguramos o legado dele e fizemos que a história não acabasse em janeiro de 2009”, afirmou Naiara em referência à data de falecimento do poeta.

A vice-reitora Patricia Pranke e a diretora do Instituto de Letras Carmem Luci da Costa Silva completaram a mesa da solenidade. Patricia relembrou a relação da UFRGS com o homenageado, destacando a guarda do acervo pessoal de Oliveira Silveira, com mais de 21 mil itens, que está armazenado e disponível para consultadas na Faculdade de Educação. “Oliveira Silveira se distinguiu por sua produção poética e por ter sido idealizador de uma sociedade mais inclusiva”, comentou a vice-reitora.

As comemorações do Dia da Consciência Negra na UFRGS têm continuidade à tarde, às 13h, com visitação à exposição "Oliveira Silveira: poeta, negro” no Centro Cultural (Rua Eng. Luiz Englert, 333 - Campus Centro).

Fonte: UFRGS

Comentários