Marta recebe homenagem e vira nome do prêmio para os melhores gols do futebol feminino

Em 1986, nasceu em Dois Riachos (Alagoas) uma garotinha que jogaria bola em uma cidade ironicamente chamada Jacaré dos Homens e cresceria para se tornar um símbolo para o mundo inteiro, uma personificação do futebol feminino. Marta, a Rainha, é merecedora de muitos tributos e foi celebrada nesta segunda-feira (15), na cerimônia The Best FIFA Football Awards™.

Reprodução site FIFA

Primeiro, a estrela de 37 anos foi chamada ao palco para receber o FIFA Special Award, um prêmio honorário dado a atletas em reconhecimento ao conjunto de suas obras, mesmo aqueles ainda em atividade. Depois, porém, veio o grande anúncio: de agora em diante, ela será eternamente lembrada com o Prêmio Marta da FIFA, que será entregue anualmente ao gol mais espetacular das temporadas do futebol feminino.

"É sempre difícil subir neste palco aqui e não se emocionar. Tive a felicidade de, algumas vezes, receber o prêmio de melhor jogadora. Acho que é muito mais fácil falar nessa ocasião, pois vai se basear no que se fez durante o ano inteiro. Mas sem dúvida isso aqui é muito mais especial. Difícil até encontrar palavras", disse a Rainha.

"Assim como enxergo nesta homenagem, quero que todas as mulheres possam enxergar um futuro promissor, que não seja direcionado somente ao futebol, mas a qualquer atividade. O que a gente busca diariamente é fazer com o mundo seja melhor para todos, sem distinção. Buscar igualdade, respeito. E deixo para todos aqueles e aquelas que tenham poder de transmitir essa mensagem através daquilo que fazem", continuou.

"Quero agradecer à FIFA e à comunidade do futebol em vida e ainda em atividade. Serve como motivação para seguir evoluindo, estamos sempre aprendendo. Em um ano de Olimpíada, quem sabe jogar mais uma e depois, quem sabe, ver se vou continuar jogando", completou Marta, visivelmente emocionada.

Poucos atletas combinam tão bem com o nome da cerimônia como um todo: ela sabe bem como é ser The Best. Afinal, basta lembrar que a brasileira foi eleita seis vezes como melhor jogadora do mundo (2006, 2007, 2008, 2009, 2010 e 2018) e é, para muita gente, a mulher mais importante do futebol em todos os tempos.

A Copa do Mundo da FIFA™ que o diga: ao longo das seis edições que disputou, Marta fez 17 gols em 23 jogos e é a maior artilheira da história do torneio entre homens e mulheres. Dentre os atletas que ainda estão em atividade, os mais próximos desta marca são Lionel Messi (13 gols) e Kylian Mbappé (12), mas mesmo estes dois gênios ainda precisam balançar as redes mais vezes para alcançar os números dela.

“É óbvio que eu tenho uma felicidade muito grande de saber que sou recordista. Mas isso representa a nação brasileira. Não representa só a Marta, mas todas nós. Para mim, é uma honra muito grande ser a detentora desse recorde”, contou ela à FIFA.

O Mundial sentirá saudade desta lendária jogadora, que continua em atividade pelo Orlando Pride (EUA) e até pela Seleção Brasileira, mas decidiu que sua última Copa foi a de 2023 – ela não voltará para a disputa em 2027.

“Não tem mais Copa para a Marta. Fico muito contente por tudo que vem acontecendo com o futebol feminino no Brasil e no mundo. São meninas com muito talento e um caminho enorme pela frente. Para elas, é só o começo. Para mim, é o fim da linha”, disse a camisa 10 na saída de campo de seu último jogo de Copa do Mundo.


Reprodução site FIFA

Todas querem a camisa de Marta

Marta já pensa em pedir mais camisas a cada jogo, tamanha é a demanda das adversárias para trocar com a lenda brasileira em campo.

Muitas das portas que as jovens atletas encontram atualmente foram abertas pela luta de Marta; aquela garotinha que fazia gols em Jacaré dos Homens não tinha muitas referências no futebol feminino porque as craques da época não recebiam a repercussão midiática de hoje, mas a Rainha agora inspira meninas no Brasil e fora.

"Jogar com a Marta é um sonho que eu consegui realizar. Depois que você conhece o ser humano, a Marta garotinha, começa a admirá-la ainda mais. Você entende por que as pessoas a tratam como a Rainha do futebol. Ela é um exemplo dentro e fora de campo.", afirmou Ary Borges, um dos nomes da nova geração do Brasil, após um jogo da Copa.

Em entrevista à Placar, a goleadora Bia Zaneratto concordou: "Acima de tudo, Marta tem um coração gigantesco, é humana. Não à toa foi por seis vezes eleita a melhor do mundo. É por tudo o que faz dentro de campo, pela forma como abraça a equipe e como agrega para que a modalidade esteja unida."

Ela é reverenciada também entre as gigantes. Bicampeã da Copa do Mundo Feminina da FIFA, a estrela norte-americana Megan Rapinoe já se curvou à Rainha brasileira:

Marta é a melhor atleta que eu vi jogar, e eu vi Kobe Bryant ser campeão da NBA!

"Marta é literalmente muito melhor do que todos nós. A habilidade dela com os pés? Incrível. A velocidade? Incrível. Ela está em todas as partes do campo, é muito melhor do que qualquer um", completou a lendária jogadora dos Estados Unidos em 2020, durante uma live no Instagram.

Chorar e sorrir

A taça do Mundial não teve o prazer de ser erguida por Marta, mas a verdade é que pouquíssimas pessoas do planeta pertenceram tanto à Copa quanto ela.

Marta faz parte do seleto grupo de atletas que já marcaram em cinco edições diferentes, ao lado de Christine Sinclair (Canadá) e Cristiano Ronaldo (Portugal) – assim como ela, ambos já foram homenageados com o FIFA Special Award.

A jornada mágica dela no torneio começou em 2003 e chegou perto da glória em 2007. Naquele ano, o Brasil encantou o mundo todo com um futebol cheio de dribles e arrojo, atropelando os Estados Unidos por 4 a 0 na semifinal. Com direito a um golaço inesquecível feito por ela.

Com direito a um golaço inesquecível feito por ela.

Porém, a derrota por 2 a 0 para a Alemanha na final derrubou a maior chance que as brasileiras já tiveram de conquistar a Copa do Mundo. Premiada com a Bola de Ouro adidas e a Chuteira de Ouro adidas, a camisa 10 teria trocado tudo isto pelo troféu.

Como ela mesma disse em 2019: "chore no começo para sorrir no fim."

Por isso, vale destacar que Marta ainda pode sorrir, disputar e conquistar o Torneio Olímpico de Futebol Feminino Paris 2024. Ela foi destaque nas duas melhores campanhas do Brasil na categoria até hoje, com medalhas de prata em 2004 e 2008, e não descarta a ideia de voltar à competição.

A possibilidade de não ver Marta campeã (mundial ou olímpica) com a Seleção Brasileira pode beirar a injustiça, mas este seria um mero detalhe perto do grande impacto que causou nas últimas décadas e da influência que ainda exerce sobre o jogo.


Fonte: FIFA


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