Pioneiro defensor da luta negra no RS ganha bibiloteca com seu nome em São Leopoldo

A cidade de São Leopoldo, na grande Porto Alegre, ganhou uma biblioteca com o nome do advogado, escritor, psicanalista e carnavalesco gaúcho Antônio Carlos Côrtes, um dos pioneiros da luta anti-racista no Rio Grande do Sul. Côrtes foi um dos responsáveis pela definição do 20 de novembro como a data para lembrar de Zumbi dos Palmares, que se transformou no Dia da Consciência Negra. Ele é o único integrante ainda vivo do Grupo Palmares, que idealizou o dia no calendário, que é um feriado nacional.

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Biblioteca Jardim das Letras – Antônio Carlos Côrtes tem um espaço voltado para a cultura afro-brasileira está situada na Rua Dr. Hildebrando, 774, no bairro Rio dos Sinos em São Leopoldo. A iniciativa é do Ilê Axé Oyawoyê, templo religioso de matriz africana comandado pela Yá Isabel, e conta com o apoio do Núcleo de Educação das Relações Étnico-Raciais da Secretaria de Educação daquele município e da Central Única das Favelas (Cufa/RS – Seção São Leopoldo). O local será dedicado à literatura afrocentrada, em que, tanto os autores, quanto os temas tratados, têm os negros como protagonistas, na perspectiva de valorização cultural da etnia. O acervo contempla autores como Carolina Maria de Jesus,  Cida Bento, Conceição Evaristo, Djamila Ribeiro, Edsoleda Santos, Lázaro Ramos, Nei Lopes, dentre tantos outros.


A cerimônia

Com rima e toque de atabaque de Fidel e do Ogan Thiago D’Ossain, a Yalorixá Isabel, do Ilê Axé Oyawoyê: assim começou a cerimônia de inauguração da Biblioteca Jardim das Letras – Antônio Carlos Côrtes. Além do objetivo de saudar o orixá Exu, Mãe Isabel explicou, para alunos das escolas Emílio Boeckel e Padre Orestes João Stragliotto, que ele não deve ser temido, pois não tem nada a ver com forças do maligno, como é, preconceituosamente, confundido.  Exu é divindade que busca abrir os caminhos  para a evolução. “A biblioteca é um local para poder falar da nossa cultura, para desmistificar”, alerta Mãe Isabel.

Participaram da inauguração a secretária de Direitos Humanos de São Leopoldo, Nadir Jesus, a professora dos municípios de São Leopoldo e Novo Hamburgo, Indiara Tainan, o coordenador geral do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas (Neabi) da UFRGS, Alan Alves Brito, o coordenador do Coletivo Negro Ubuntu Ukama de Viamão, Jair Silva Dos Angelos, a diretora social da Associação Satélite-Prontidão de Porto Alegre,  Isamara Dos Angelos, o coordenador da Central Única das Favelas de São Leopoldo, Pablo Dalavera, o rapper e escritor Elson Cascata, o rapper Fidel do Trem, o ex-árbitro de futebol Márcio Chagas, e representantes do Neabi/Unisinos, e das deputadas estaduais Bruna Rodrigues e Laura Sito.


O homenageado

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Antônio Carlos Côrtes integrou, no início dos anos 1970, o Grupo Palmares, associação de seis jovens universitários que entendiam que o 13 de maio de 1888, dia abolição da escravatura, não deveria ser exaltado como a data de homenagem aos negros, eis que não veio acompanhada de uma preocupação com o destino dos ex-escravizados.

“Entendíamos que o Dia 20 de Novembro de 1695, data da morte de Zumbi, merecia ser reverenciada. Ele foi o mais importante líder negro da história do Brasil, ao conduzir a resistência contra a opressão, no Quilombo dos Palmares, por mais de 15 anos”, esclareceu Côrtes.

A partir da movimentação coletiva do grupo, o qual era formado também por Ilmo Silva, Jorge Antônio dos Santos, Luiz Paulo Assis Santos, pelo professor Oliveira Silveira e por Vilmar Nunes, o movimento negro nacional  adotou a ideia que culminou com a criação do Dia da Consciência Negra.  

Côrtes, 75 anos, é advogado, escritor, psicanalista e radialista. Ao longo de sua vida tem se dedicado, especialmente, na defesa de causas sociais que envolvem a etnia afrodescendente. Desde março de 2023, ocupa a cadeira nº 11 da Academia Rio-Grandense de Letras. Atualmente, também é membro do Conselho Estadual de Cultura.

É detentor da Medalha Simões Lopes Neto, outorgada pelo Governo do Estado do Rio Grande do Sul.  Também recebeu a Comenda Guilhermino Cesar, do Ministério Público do Tribunal de Contas do Rio Grande do Sul.

Integrante do conselho deliberativo da Sociedade Floresta Aurora e da Associação Rio-grandense de Imprensa (ARI/RS). Integra, ainda, a Comissão Especial de Cultura e Arte da OAB/RS.


Fonte: Divulgação e Redação AP


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