ARTIGO: "Nem aplicada e nem criativa, educação no Brasil sofre com gestão equivocada", por CÉSAR SILVA

Recentemente, o Brasil ficou entre os piores em um teste de criatividade do PISA (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes) e ainda piorou em matemática, leitura e ciências, após a pandemia.

Isto não foi nenhuma novidade, pois os nossos resultados no exame (PISA) nunca são animadores. A discussão que cabe, entretanto, é: por que os brasileiros não se preocupam com este tema? Estes resultados deveriam atuar como um alarme de emergência; mas são encarados como algo normal tanto para os cidadãos como para os políticos e os executivos do MEC.


César Silva, presidente da Fundação de Apoio à Tecnologia

A importância do PISA é enorme como indicador comparativo do grau de aprendizagem dos jovens de diversos países. É um exame da OCDE para jovens de 15 anos, focado na avaliação do ensino fundamental. Para entender sua relevância, vale mencionar que o Banco Mundial demonstrou que países que conseguem melhorar 100 pontos no PISA em matemática passam a crescer 2% ao ano de maneira contínua.

Imagine o impacto disso: se melhorássemos nossa pontuação de 414 para 514, nosso PIB poderia crescer 2% ao ano, de forma sustentável e contínua. Nos últimos 25 anos, o Brasil cresceu apenas 0,6% ao ano, com períodos de retração em alguns anos.

Eis a importância da educação bem desenvolvida para o resultado econômico de uma nação.

Países que obtêm bons resultados nesse exame demonstram uma base educacional sólida, fundamental para o seu desenvolvimento econômico e social. O Banco Mundial também já mediu que, sem capital intelectual, um país não cresce de maneira contínua, fazendo com que até os países mais ricos sigam investindo em educação como uma garantia de continuidade do bem-estar social e crescimento econômico.

Por isso, melhorar nosso desempenho no PISA não deve ser apenas uma questão de orgulho nacional, mas uma estratégia concreta para impulsionar o crescimento econômico.

Dois pontos são fundamentais para ajudar a explicar esse desempenho vexatório: o Brasil investe pouco em educação básica e, para piorar, investe errado. Investimos menos de um terço do que países desenvolvidos investem em educação básica pública. Isso não só limita os recursos disponíveis para melhorar a infraestrutura escolar e capacitar os professores, mas também prejudica a qualidade do ensino oferecido.

Mas, fica difícil mudar diante do adiamento da promulgação do novo Plano Nacional da Educação para dezembro de 2025 e da paralisia da reforma do ensino médio. Vale lembrar que o governo voltou atrás na proposta de focar em temas principais e devolveu disciplinas e mais disciplinas para os alunos que não têm desejo de estudar mais do mesmo, sem contextualização.

O Brasil perde tempo ao focar nas discussões secundárias, como o Ensino à Distância para professores, e deixa para depois o que é essencial para o desenvolvimento do país: a qualidade do ensino e o engajamento de nossos jovens. Não à toa, crescer ao redor de 1% ao ano é nossa realidade nos últimos anos.

César Silva é diretor Presidente da Fundação de Apoio à Tecnologia (FAT) e docente da Faculdade de Tecnologia de São Paulo – FATEC-SP





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