LEITURAS DE DOMINGO: Por que o Brasil é uma potência paralímpica?

Na próxima quarta-feira, dia 28 de agosto, começa a Paralimpíada de Paris-2024. Uma das consequências, a partir do momento que surgirem as primeiras conquistas do Brasil, é a volta de uma pergunta que a cada quatro anos é refeita pelos torcedores: o que faz o país ter um desempenho tão bom em competições paralímpicas?

Ale Cabral / CPB

De fato, os números não deixam margem para dúvidas. A curva do crescimento brasileiro nos últimos 20 anos é inegável. Em Atenas-2004, o país pela primeira vez figurou no Top 15. Já na edição seguinte, em Pequim-2008, entrou para o Top 10 no quadro geral de medalhas e de lá não mais saiu. Nas duas últimas participações - Rio-2016 e Tóquio-2020 -, cruzou a barreira das 70 medalhas. Uma régua bem alta.

Os motivos não podem ser resumidos em uma única direção. Mas se há um argumento irrefutável, é o mais óbvio deles: investimento. Neste sentido, o maior impulsionador foi a Lei Agnelo Piva, sancionada em 2001. Ela prevê que 2,7% do total bruto arrecadado das Loterias da Caixa Federal, fora, é claro, as premiações, seja destinado 62,9% ao Comitê Olímpico Brasileiro (COB) e 37,04% ao Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB). Não por acaso, já nos Jogos de Atenas, veio o Top-15 – havia sido 37º em Atlanta-1996 e 24º em Sydney-2000.

Há, no entanto, mais explicações, algumas até paradoxais. Há quem aponte, por exemplo, que a falta de apoio às pessoas com deficiência no país em outras áreas, principalmente no que diz respeito a oportunidades profissionais, acaba direcionando elas ao esporte, que acaba funcionando como uma ferramenta de inclusão.

Outro fator tem a ver com o início das disputas: a primeira Paralimpíada foi disputada em 1972. Assim, o tempo que o Brasil levou para começar a investir no esporte paralímpico, na comparação com o olímpico, é muito menor, o que possibilitou uma defasagem bem menor em relação a outras potências.

Há ainda a atuação do CPB, seguidamente elogiada pelos próprios atletas e que tem em um dos seus maiores feitos a inauguração, em 2016, de um grande Centro de Treinamentos em São Paulo. Ao longo de 95 mil metros quadrados, há espaços especiais para 20 diferentes modalidades.

“Acredito que o crescimento vem da boa organização que o Comitê Paralímpico tem para desenvolver as modalidades”, aponta Eduardo Nunes, técnico da esgrima de cadeira de rodas do Grêmio Náutico União e da seleção brasileira. Ele lembra ainda a retroalimentação que vem a partir das vitórias. “Tem ainda os próprios resultados dos atletas, que deram mais visibilidade, trouxeram mais patrocinadores e, consequentemente, tem mais investimento”.

Maior delegação

A delegação brasileira nos Jogos Paralímpicos de Paris é a maior que o país já levou para um evento similar. Nem mesmo na edição de 2016, quando a Paralimpíada foi realizada no Rio de Janeiro, houve tantos atletas brasileiros na disputa pelas medalhas.

No total, serão 280 representantes, dos quais são 255 paratletas, 19 atletas-guia (18 do atletismo e um do triatlo), três calheiros da bocha, dois goleiros do futebol de cegos e um timoneiro do remo. Das 22 modalidades em disputa, o Brasil só não estará representado em duas: no basquete e no rúgbi, ambos de cadeira de rodas, na qual o país não conseguiu classificação.

Assim como já aconteceu com a delegação brasileira na Olimpíada de Paris, na Paralimpíada as mulheres também estarão representadas em grande número. Se não são maioria, como no caso olímpico, as 116 paratletas representam um índice de 45% do total do Time Brasil.

Do Rio Grande do Sul, serão 13 representantes na competição, com destaque para Jovane Guissone, na esgrima de cadeira de rodas, e Ricardinho, no futebol de cegos. Há ainda a nadadora pernambucana Carol Santiago, do GNU.


Os gaúchos na Paralimpíada:

ATLETISMO

Aser Mateus Ramos

Wallison André Fortes


ESGRIMA

Jovane Guissone

Kevin Damasceno

Mônica Santos

Vanderson Chaves


FUTEBOL DE CEGOS

Jonatan da Silva

Ricardinho


LEVANTAMENTO DE PESO

Ana Paula Marques


JUDÔ

Marcelo Casanova


NATAÇÃO

Roberto Alcalde Rodriguez


TAEKWONDO

Maria Eduarda Stumpf


Fonte: Correio do Povo

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