MISSÃO CUMPRIDA: Último abrigo civil para vítimas da enchente em POA fecha as portas

O último abrigo desenvolvido por voluntários da sociedade civil para apoiar as ações feitas durante as enchentes de maio em Porto Alegre encerrará suas atividades na próxima sexta-feira, fechando, assim, mais um ciclo relacionado à retomada da cidade. O Abrigo Emergencial 60+, voltado ao atendimento aos idosos afetados, idealizado pela médica gerontologista Michelle Clos e localizado em um imóvel no número 1.315 da avenida João Pessoa, bairro Farroupilha, acolheu 61 pessoas desde 17 de maio. Agora, o espaço será devolvido ao proprietário.

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No total, o espaço teve o apoio de 250 voluntários, somando mais de 2 mil horas de trabalho. A contabilização já foi feita: ao todo, foram 4,6 mil fraldas e 10,8 mil marmitas distribuídas, além de 1,9 tonelada de roupas lavadas no Hospital Vila Nova, uma das diversas parcerias feitas pela administração do abrigo. As geladeiras entregues foram 13, bem como 14 fogões, dezenas de eletrodomésticos, móveis, utensílios em geral, conjuntos de cama, mesa e banho.

O total arrecadado junto a pessoas físicas e jurídicas somou mais de R$ 156 mil, dinheiro usado para pagamento de equipes de saúde, limpeza, vigilância, assim como fretes, compra de medicamentos, transporte de abrigados e voluntários. O abrigo tinha, como ideia inicial, quatro frentes de trabalho, funcionando em períodos de tempo. A última, prevista até novembro, era garantir o retorno dos idosos em segurança, porém a etapa pôde ser antecipada.

Ao todo, 42 deles conseguiram voltar. Outros dez foram para Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPI), cinco para Centros Humanitários de Atendimento (CHA), dois para hospitais e dois faleceram devido a comorbidades. A fisioterapeuta Karen Przybysz da Silva Rosa resume a experiência em privilégio e responsabilidade. “Privilégio de poder ouvir histórias e auxiliar pessoas tão agradecidas por um cuidado de qualidade. E responsabilidade, pois nos primeiros dias não tínhamos muitas informações do histórico destes moradores ou estado de saúde geral. A avaliação clínica e o conhecimento sobre o processo de envelhecimento foram nossa base”, contou ela.

Após ser aberto, não demorou para a casa encontrar equilíbrio, mesmo diante do cenário caótico que viviam Porto Alegre e o RS, estado com o maior índice de envelhecimento e a maior faixa etária média do Brasil, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Por meio da estimulação dos idosos, inclusive com atividades terapêuticas, o processo de adaptação foi relativamente rápido, e logo os abrigados, alguns dos quais perderam seus lares nas cheias, puderam se sentir em casa novamente.

Foram fundamentais algumas parcerias, como, por exemplo, com o Colégio Farroupilha, a Fundação Padre Cacique, o Instituto Dunga, e os apoios do Conselho Estadual do Idoso (CEI), o Conselho Municipal do Idoso de Porto Alegre (COMUI) e a Frente Nacional de Fortalecimento de Instituições de Longa Permanência. Porém, os voluntários foram movidos amor pela causa e a vontade de ajudar. “Ser voluntário nestes 90 dias é desejar ver meu semelhante em condições plenas de vida. Atuar em benefício aos idosos hoje, é atuar em benefício a uma melhor qualidade de vida para os futuros idosos”, disse o técnico em Enfermagem Tiago Goulart.

“Me senti privilegiada e honrada por participar do trabalho de um abrigo que deu muito certo. Vi tanto amor em forma de cuidado, nutrição, doação e gentileza. Vi pessoas recebendo amor que nunca tiveram na vida”, contou a bibliotecária e terapeuta da área integrativa Erna Maria Klausgraber. “Foi uma experiência profundamente tocante para mim, e o que mais me tocou foi a demonstração de amor nas partidas do abrigo, tanto por parte dos abrigados quanto dos voluntários”, prosseguiu Erna.

Fonte: Correio do Povo

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