Pesquisas realizadas após enchentes revelam evidências de antigas civilizações no RS

Cientistas do Laboratório de Arqueologia do Museu de Ciências da Universidade do Vale do Taquari (Univates) estão revelando novos aspectos da história da região da Bacia Hidrográfica Taquari-Antas. Após as enchentes de setembro de 2023 e de maio de 2024, escavações em um sítio arqueológico em Roca Sales descobriram vestígios de uma aldeia indígena Guarani, com artefatos e sepultamentos que sugerem uma ocupação muito anterior à chegada dos europeus ao Vale do Taquari.

Andrea Zysko/Divulgação


O projeto buscou entender melhor as sociedades indígenas que habitavam a região. Os achados correspondem ao século XV — 600 anos atrás — e permitiram aos pesquisadores interpretar que a aldeia descoberta possui formato semicircular, com uma praça central, e revela uma organização social complexa.

O local das escavações trouxe à luz uma grande quantidade de vestígios, como fragmentos de cerâmica, ferramentas de pedra e ossos de animais. Esses objetos indicam que a população da aldeia Guarani tinha uma economia agrícola sofisticada, com o cultivo de milho, mandioca e feijão, além da caça de animais. Os utensílios encontrados evidenciam uma rica cultura material. Panelas decoradas com marcas de dedos e unhas, além de jarros pintados, mostram o cuidado com a produção e o armazenamento de alimentos e bebidas.

Outro achado importante foi a descoberta de cinco sepultamentos, três deles realizados em grandes urnas funerárias. A disposição dos corpos e os adornos encontrados junto a eles revelam práticas funerárias elaboradas, demonstrando o respeito dos Guarani por seus mortos.

Próximos Passos

As escavações foram lideradas pelas arqueólogas Neli Galarce Machado e Fernanda Schneider, e contaram com a colaboração de pesquisadores internacionais e estudantes de programas de pós-graduação da Univates, e contou com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ), autorização do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e acompanhamento da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).

Elas ocorreram em julho de 2024 e combinaram métodos tradicionais de arqueologia, como o uso de pincéis e espátulas, com tecnologias modernas, como drones e softwares de processamento de imagens. Essas técnicas avançadas estão permitindo uma análise em detalhes do sítio arqueológico, ajudando a equipe a mapear com precisão a localização dos artefatos.

Além das descobertas materiais, a pesquisa pretende reconstituir as dinâmicas sociais e culturais das populações e da presença indígenas na Bacia Taquari-Antas, oferecendo uma nova visão sobre a história pré-colonial da região. Esse material ajudará a trazer à tona a complexidade das sociedades que viviam na região, reconhecendo sua importância para a história do Vale.

O sítio arqueológico de Roca Sales agora passará por uma etapa de análise dos objetos coletados, com estudos de cerâmicas, amostras de carbono e restos orgânicos, como grãos de amido e sementes. Essas análises ajudarão a esclarecer ainda mais os modos de vida dos antigos habitantes do Vale do Taquari.

Fonte: Jornal do Comércio

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