Entre 1910 e 1968, Pelotas encontrava-se em uma posição cultural privilegiada com mais de 30 salas de exibição, entre cinemas "de calçada", cine teatros e teatros. Vários bairros tinham uma ou mais salas de cinema. Entre estes, está o Theatro Sete de Abril. Inaugurado em 1834 – e se não fosse interditado em 2010, seria o mais antigo do país em funcionamento – em uma cidade próspera, baseada na produção das charqueadas, cuja riqueza alimentava certos hábitos burgueses, o espaço entrou no circuito das principais atrações e companhias que transitaram entre porto Alegre, Rio de Janeiro, até Montevidéu e Buenos Aires.
Já Teatro Guarany foi inaugurado em 30 de abril de 1921 com a apresentação da ópera “O Guarany” de Carlos Gomes. Projetado para desempenhar atividades de cinema e teatro, as exibições de filmes ocorreram até 24 de outubro de 1996. Pode-se afirmar que, neste período, o Guarany vivenciou todas as fases que marcaram a trajetória dos cinemas de calçada no cenário brasileiro. Atualmente, funciona apenas como teatro e cenário para a realização de espetáculos de música, dança e solenidades de formatura dos cursos das universidades locais.
Com o tempo, as salas foram entrando em extinção e grandes cinemas foram fechando as portas, deixando prédios abandonados ou nas mãos e outros negócios.
Com o intuito de mapear e resgatar a história destas salas a partir de depoimentos de quem viveu um período que colocou Pelotas numa posição privilegiada da cultura brasileira, um grupo de pesquisadores criou o projeto Pequeno Inventário de Plateias. A proposta se divide em duas vertentes metodológicas: uma investigação documental, que buscará dados históricos, arquitetônicos e jornalísticos, e outra, que se apoia na história oral e na memória afetiva de integrantes de diferentes setores da sociedade, como trabalhadores, frequentadores assíduos ou esporádicos que tiveram esses lugares como cenário de episódios marcantes para as suas vidas.
No dia 20 de março, foi lançada a convocatória para que os pelotenses relatem suas memórias. Serão selecionadas dez histórias, que serão registradas em áudio. As inscrições devem ser feitas pelo site www.inventariodeplateias.com.br.
No dia 25 de maio, será a vez de artistas visuais residentes em Pelotas inscreverem-se para produzirem obras em diálogo com os depoimentos. Os dez trabalhos, acompanhados dos áudios dos relatos, serão apresentados em uma exposição que abre no dia 8 de agosto, na Secretaria Municipal de Cultura.
O Pequeno Inventário prevê, ainda, a distribuição de um mapa acessível com os espaços pesquisados. O material propõe um percurso urbano, no qual o transeunte também poderá encontrar o local exato dos dez depoimentos. Esses pontos serão sinalizados por um QR Code fixado pela cidade
Um resgate histórico e afetivo
Gaúcha de Porto Alegre, Tainah Dadda conheceu Pelotas através do olhar de dois amigos: o artista visual Patrick Tedesco e o músico Luciano Mello. Entre 2015 e 2019, os projetos culturais realizados na cidade junto com Tedesco a colocaram em contato com outras pessoas e infinitas histórias e lembranças de um período cultural mais intenso que não existe mais. Entre essas pessoas estava o curador, crítico de cinema e pesquisador Renato Cabral.
Durante a pandemia, Tainah e Cabral se mudaram para a cidade do Porto (Portugal) para cursar mestrado em Curadoria. O isolamento os afastou das ruas e das pessoas que sequer tiveram tempo de conhecer. Entre as longas conversas para amenizar o tempo, eles falavam sobre a nostalgia.
Foi então na disciplina de Curadoria, que Renato Cabral escreveu um projeto sobre projeção de filmes nas fachadas de espaços que um dia abrigaram cinemas e cineteatros de calçada de Pelotas. Esse foi o start para o Pequeno Inventário de Plateias. “É um projeto de memória e patrimônio que não tem o rigor acadêmico, mas busca aproximar a pesquisa do público em geral e tornar o acesso aos seus resultados mais simplificado. A partir do mapeamento desses lugares e da busca por informações factuais, queremos resgatar a história oral e a memória afetiva de quem viveu e habitou esses espaços e compreender como os cineteatros e os cinemas de calçada mobilizavam a sociedade e o espaço urbano”, diz a curadora.
O projeto Pequeno Inventário de Plateias é realizado com recursos da Lei Complementar n. 195/2022, Lei Paulo Gustavo.
CRONOGRAMA
20 de março: Lançamento das redes sociais
Até 27 de abril: Convocatória para a recolha dos relatos pelo site www.inventariodeplateias.com.br
25 de maio a 25 junho: Convocatória para artistas visuais pelo site www.inventariodeplateias.com.br
08 de agosto a 08 de setembro: Exposição de Pequeno Inventário de Plateias na Secretaria da Cultura de Pelotas (Praça Cel. Pedro Osório, 02 – Centro)
FICHA TÉCNICA
Pequeno Inventário de Plateias
Curadoria e pesquisa: Tainah Dadda
Pesquisa e identidade visual: Renato Cabral
Produção executiva, web design e fotografia: Aruna Cruz
Produção executiva e edição de áudio: Gustavo Cunha
Assistência de produção e identidade visual: Patrick Tedesco
Técnico de gravação: Bruno Chaves
Social media: Vitória Proença
Assessoria de imprensa: Roberta Amaral
Mediação da exposição: Grupo Patafísica
Fonte: Assessoria de Imprensa
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