Emprego, renda e turismo: em expansão, free shops aquecem economia em cidades de fronteira do RS

Do alfajor simples ao aparelho de ar-condicionado, os free shops há anos conquistam os brasileiros pelos preços que oferecem. Mais recentemente, o passeio de compras deixou de ser privilégio apenas de quem cruza a fronteira rumo aos países vizinhos, ganhando espaço nos próprios limites, com a abertura das lojas francas de fronteira terrestre, em expansão no Rio Grande do Sul.

Eduardo Rocha/Divulgação

O efeito ainda em curso é o de uma alta de consumo, impulsionado pela possibilidade de gastos dos dois lados dos limites geográficos. Mas também uma aposta de desenvolvimento local e regional, criando na economia dos municípios outra fonte de renda ligada ao turismo de compras.

Alçada a “capital dos free shops”, Uruguaiana, na Fronteira Oeste, lidera em quantidade de lojas. Depois, aparecem Jaguarão e Barra do Quaraí, seguidas ainda de Quaraí, São Borja, Santana do Livramento, Porto Xavier, Porto Mauá e Itaqui.

Da arrecadação total de R$ 3,9 bilhões no comércio geral de Uruguaiana em 2024, 3,14% vieram das lojas francas. Os negócios empregam mais de 800 pessoas de forma direta no município, que tem 117,2 mil habitantes.

Uma das vantagens vem da posição geográfica, porta de entrada para turistas de países como a Argentina. De janeiro a abril deste ano, das 1.231.544 pessoas que entraram no Brasil pelo Rio Grande do Sul, 610.438 ingressaram por Uruguaiana. Em 2024, a movimentação turística no município foi de aproximadamente 1,1 milhão de pessoas. A ocupação na rede hoteleira chegou a 84%.

— Criou-se um polo. Os primeiros seis meses de 2025 ultrapassaram 120 milhões de operações de venda e não alcançamos nem a metade da perspectiva que estimamos. O ramo atraiu para a cidade o que antes não tínhamos e alavancou o nosso turismo. As pessoas vêm exclusivamente para fazer compras — observa o prefeito de Uruguaiana, Carlos Delgado.

Até 2020, eram 217 atividades econômicas relacionadas a restaurantes e demais serviços de alimentação na cidade. Em 2025, o número já saltava para 375 estabelecimentos em funcionamento.

Dono de uma das redes em expansão no município, Paulo Pavin, do Bah Free Shops, diz que o turismo de compras virou “a cereja do bolo”. Mas pondera que é preciso entregar experiência aos consumidores. O empreendedor comanda duas lojas na cidade e prepara uma terceira para ser instalada no aeroporto.

— Uruguaiana está despertando. A cidade é outra com a transformação trazida pelos free shops. É um crescimento de fora para dentro, um dinheiro que chega, uma nova economia — diz Pavin.

Proximidade com polo uruguaio

Cidade gêmea de Rivera, famoso polo de compras no Uruguai, Santana do Livramento pega carona no vaivém de turistas para explorar os atrativos da região da Campanha. A cidade ensaia abrir nos próximos meses os seus próprios free shops terrestres. São pelo menos três previstos até o fim do ano. Enquanto isso, é o primeiro free shop de vinhos do país, instalado na vinícola Almadén, que faz a frente para receber o público.

Prefeita de Livramento, Ana Luiza Tarouco diz que o efeito econômico é inegável. Além de gerar emprego, os negócios ligados ao turismo e às compras geram destaque regional à cidade. Os comerciantes relatam que cerca de 70% do que circula em vendas em Rivera retorna de alguma forma para Santana do Livramento, seja em passeios, seja em serviços. Há também os uruguaios que preferem morar na cidade gaúcha, aquecendo o mercado imobiliário.

— É todo um turismo interligado, e já percebemos claramente uma mudança de perfil. Tem quem vem e já retorna, e tem quem vem e fica para usufruir do Trem do Pampa, por exemplo, num perfil de viagem diferente. Seguimos com o turismo de compras, que é fundamental para a economia do município, mas investindo também no turismo rural, que está em crescimento — destaca a prefeita.

No free shop da vinícola Almadén, do Grupo Miolo, além de comprar garrafas por valor 30% menor do que o encontrado em outras adegas, por serem livres de impostos, é possível ver os parreirais e passear pelos 450 hectares de vinhedos, com experiências pagas que vão da degustação de vinhos à visita de uma paleotoca pré-histórica com vestígios ancestrais da vida no Pampa.

— É mais um atrativo para visitar — comenta Alex Machado, coordenador de enoturismo da Almadén, sobre o foco no turismo de compras e de experiências.

A loja da vinícola tem variedade de mais de 70 rótulos, entre sucos, vinhos e espumantes, com preços que vão de R$ 15 a R$ 900. O local é mais visitado aos finais de semana, sobretudo aos domingos, como parte da rota de quem retorna para outras regiões do Estado.

Mais ao Sul, é a proximidade de outro centro tradicional de compras uruguaio, em Rio Branco, que faz de Jaguarão uma opção de destino turístico. O município gaúcho possui quatro free shops terrestres de fronteira, também atrativos.

A cidade é a menos distante de Porto Alegre (389 quilômetros) se comparada a outros polos de compras fronteiriços, por isso costuma ser opção de bate e volta. Ainda assim, o movimento aquecido, principalmente de quinta a domingo, se reflete na hotelaria.

— Nossos finais de semana estão praticamente sempre lotados. Mesmo com o dólar caro, o pessoal segue vindo — relata Gustavo Costa Rubim, recepcionista do Hotel Sinuelo, contando que a procura antes dos free shops era muito diferente, e menor.

— Em quatro, cinco dias chegamos ao número de hóspedes que antes dava em um mês. Mudou a economia de Jaguarão — diz.

Os free shops de fronteira terrestre são regulamentados por lei no Brasil desde 2018, permitidos para serem instalados em cidades brasileiras gêmeas a municípios estrangeiros. Mas há mais de três décadas, quando foram criados de forma semelhante no Uruguai, atraem legiões de consumidores para as regiões de fronteira. No lado gaúcho, os negócios deste tipo se espalharam nos últimos anos, gerando nova opção de renda e arrecadação para as cidades que os recebem.

São 33 municípios brasileiros habilitados para terem lojas francas terrestres — 11 ficam no Rio Grande do Sul. Conforme dados da Receita Federal atualizados até o fim de julho, eram 31 free shops do tipo autorizados no RS, com 26 em funcionamento.

A principal diferença entre os free shops brasileiros e os free shops dos países vizinhos é que nos negócios do Brasil a população local também pode comprar. No Uruguai e na Argentina, as lojas são exclusivas para estrangeiros. Além disso, as cotas não competem entre si, permitindo-se gastar os limites de compras nos dos dois lados das fronteiras. Ou seja, um brasileiro em viagem pode consumir sua cota isenta de impostos tanto em Santana do Livramento, no RS, quanto em Rivera, no Uruguai.

Presidente da frente parlamentar que trata do tema na Assembleia Legislativa gaúcha, o deputado Frederico Antunes vê nos free shops a oportunidade de desenvolver as bordas do Estado, retendo população com acesso a renda e emprego:

— São locais onde temos poucas indústrias. Tínhamos que buscar alternativas e o turismo foi a opção para se juntar à produção de alimentos, ao comércio tradicional, aos serviços e ao transporte internacional para incrementar a economia. Os pontos de fronteira estão criando alternativas para fixar pessoas e atraírem outras à região.

De janeiro a junho, as lojas francas instaladas no Rio Grande do Sul representaram 72% no cenário nacional, frente a outros Estados aptos a terem este tipo de loja: Paraná (24,3%), Santa Catarina (2,9%) e Mato Grosso do Sul (0,61%).

Os free shops de fronteira terrestre têm como limite de compras a cota de US$ 500 por CPF. Articulações em curso buscam elevar este valor para US$ 1 mil por pessoa. Estudos estimam que a ampliação levará a acréscimos da mesma ordem na economia dos municípios, ou seja, um impacto de 100% em diversas atividades.

O que são free shops de fronteira terrestre?

  • Instalados em cidades brasileiras gêmeas a municípios estrangeiros, os free shops de fronteira terrestre são permitidos por lei regulamentada em 2018.
  • O regramento garante a isenção de alguns impostos embutidos nas mercadorias.
  • Na prática, significa comprar produtos de marcas estrangeiras sem as taxas de importação.
  • Nos free shops brasileiros, ainda há outra vantagem: as lojas francas vendem na moeda nacional, o real, o que dispensa pagamento de IOF.
  • Na venda, as empresas pagam apenas PIS, Cofins e um percentual sobre a receita bruta para o Fundaf, gerido pela Receita Federal.
  • A lista de itens à venda é extensa e variada. Vai de perfumes e cosméticos a eletrônicos, passando por doces e bebidas.

Fonte: GZH, leia a reportagem completa aqui com mais informações


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