Quem veio prestigiar a primeira noite de exibição de longas no Palácio dos Festivais, nesta sexta-feira (15), deve ter até estranhado. Ao contrário do que todo mundo se acostumou a ver no Festival de Cinema de Gramado, o famoso tapete vermelho não estava vermelho - mas, sim, azul. Houve quem de imediato deixasse a paixão clubística falar mais alto, interpretando a mudança como algum desdobramento da rivalidade Gre-Nal, mas não era nada disso. A iniciativa, na verdade, tinha a ver com a promoção do longa O Último Azul, de Gabriel Mascaro, exibido fora de competição e que mobilizou as atenções na primeira noite oficial do evento. Foi a primeira vez, em todos os 53 anos de história do Festival, em que o tapete pelo qual desfilam as celebridades teve qualquer cor que não o vermelho de costume.
Edison Vara/Pressphoto |
Além da honraria ao filme, também foi celebrado um dos principais atores do longa, Rodrigo Santoro, que antes da exibição recebeu o Kikito de Cristal. A homenagem leva em conta, em especial, a carreira internacional do ator, que há décadas vem se revezando entre produções brasileiras e de outros países.
Recentemente agraciado com o Urso de Prata em Berlim, O Último Azul traz Denise Weinberg no papel de Tereza, uma mulher idosa que mora em uma cidade da Amazônia e que, devido a idade, é forçada por um governo distópico a ir para uma colônia, para onde são levados os velhos que supostamente não são mais úteis para a sociedade. Dias antes de ser convocada para o exílio compulsório, Tereza resolve partir em uma viagem pelos rios da região, em busca da realização de um último desejo: voar. Pelo caminho, encontra figuras como um barqueiro amargurado após uma separação amorosa (Rodrigo Santoro), um ribeirinho que empilha fracassos na tentativa de colocar sua pequena aeronave para funcionar (Adanilo Reis) e uma mulher que vive de vender bíblias digitais aos moradores da região (Miriam Socarrás).
Associando o reconhecimento obtido em Berlim com outros sucessos recentes do cinema brasileiro, como o Oscar de melhor filme internacional para Ainda Estou Aqui e a aclamação recebida por O Agente Secreto em Cannes, o diretor Gabriel Mascaro disse estar muito feliz de fazer parte de "um ano lindo" para o cinema nacional. "Essas conquistas vão fortalecendo nosso orgulho de ser brasileiros, dentro desse universo que é o cinema", ponderou.
Além de destacar que o Urso de Prata marca sua história como cineasta e apreciador de cinema, Mascaro disse ter ficado muito satisfeito de ver como a mensagem de seu novo longa tem atingido diferentes grupos de pessoas. "É bonito perceber que o filme traz uma mensagem universal, fala sobre a mulher idosa que deseja, o corpo idoso desejante. Não deixa de ser um alerta, em um mundo que se vê cada vez mais pressionado a esconder o envelhecimento."
Elogiada pela atuação como Tereza, Denise Weinberg disse que o cenário do longa, ambientado nos igarapés e curvas de rio da Amazônia, acabou sendo decisivo para a consolidação de sua personagem, que mantém falas curtas pela maior parte do filme. "O audiovisual tem essa potência, um olhar é capaz de enviar muitas coisas ao subconsciente do público. Mas não é uma coisa que eu fiquei em casa ensaiando: estar na Amazônia, naquele lugar, com aqueles companheiros, foi me ajudando a criar (a postura de Tereza). Você olha para o igarapé, sente como as coisas se movem em torno dele e, quando se dá conta, já está em uma vibe totalmente diferente (do ambiente urbano)", garante.
Sobre seu personagem, Rodrigo Santoro disse que, já ao ler o roteiro, fascinou-se pela descoberta dos sentimentos que se manifesta em sua aparição na telona. "Ontem (durante a entrega do Kikito de Cristal) eu me emocionei, e isso acontece desde sempre, nunca consegui e nem quero me controlar. E eu acho que é isso que me fascina também (no filme), o Cadu (seu personagem) começa de luto, e a partir do encontro com a Tereza ele vai conquistando o direito de acreditar que deve abraçar sua fragilidade, que vale a pena seguir o impulso do seu coração."
Fonte: Jornal do Comércio
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