Entrou em operação nesta semana a primeira planta de produção de biometano em um aterro sanitário do Rio Grande do Sul. A usina foi inaugurada em Minas do Leão, a cerca de 100km de Porto Alegre, e deve transformar resíduos orgânicos em gás capaz de gerar energia e combustíveis. Inicialmente, a produção do biometano será destinado para a indústria, segundo a Companhia Riograndense de Valorização de Resíduos (CRVR).
Grupo Planalto/Reprodução |
A unidade, chamada de Biometano Sul, deve criar gás natural renovável equivalente a 12,5 mil botijões de gás ao dia, reutilizando lixo orgânico que é descartado por 85 municípios do estado. O local foi construído em uma área da CRVR, que atende entre outros municípios, Porto Alegre.“Um primeiro passo.” Mais de um participante da solenidade de inauguração da usina da Biometano Sul, ocorrida nesta semana, em Minas do Leão, manifestou essa opinião quanto ao que a planta representará para o segmento do biometano (biogás purificado) no Rio Grande do Sul. O complexo é vinculado ao aterro sanitário da Companhia Riograndense de Valorização de Resíduos (CRVR) e utiliza resíduos orgânicos para produzir o combustível.
O investimento na usina foi de aproximadamente R$ 150 milhões. O diretor operacional da CRVR/Biotérmica/Biometano Sul, Rafael Salamoni, detalha que a unidade começou a operação com uma produção de cerca de 45 mil metros cúbicos por dia de biometano. "É um volume bem expressivo para uma planta que está iniciando sua atividade", enfatiza Salamoni. Já na sua largada, trata-se da maior capacidade produtiva do biocombustível materializada no Estado, até o momento.
A estrutura em Minas do Leão pretende chegar ao pico da produção em meados de 2026, atingindo 66 mil metros cúbicos diários de biometano. Futuramente, a expectativa é que seja feito um novo investimento na ampliação do complexo, alcançando uma capacidade total de cerca de 100 mil metros cúbicos do gás ao dia, o que deve ocorrer em 2028.
O biometano produzido na unidade leonense já tem contrato firmado de comercialização com a Ultragaz. Também já estão sendo realizadas obras no aterro da CRVR em São Leopoldo para a produção de biometano nesse município. De acordo com Salamoni, essa planta verifica um avanço de cerca de 60% das obras. A operação dessa unidade, que terá uma capacidade de 32,4 mil metros cúbicos ao dia, está prevista para junho do próximo ano.
O grupo também já tem projetos similares sinalizados para as cidades de Santa Maria, Giruá e Victor Graeff. A perspectiva do grupo é chegar até 2030 com uma capacidade de 250 mil metros cúbicos ao dia de biometano, o que equivale a cerca de 10% do que o Rio Grande do Sul consome hoje de gás natural, que é uma fonte fóssil, de maior impacto ambiental.
Salamoni enfatiza que o grande desafio será propagar a tecnologia para mais cidades do interior gaúcho, em aterros de médio porte, que atuam com 500 a 700 toneladas de resíduos por dia. Ele ressalta que o crescimento do setor passará por uma diversificação de tecnologia. O diretor operacional da CRVR/Biotérmica/Biometano Sul acrescenta que os aterros também podem receber outros tipos de resíduos como, por exemplo, os da suinocultura. Ele argumenta que descentralizar a produção de biometano é trazer desenvolvimento para o Interior.
Para Salamoni, o projeto em Minas do Leão é o marco inicial de uma ideia que irá se espalhar pelo Estado. "Esse é um primeiro passo, já sólido, que nos deu a condição de pensar os próximos projetos com muita tranquilidade", assinala o dirigente. O local onde a usina foi implementada é o maior aterro do Rio Grande do Sul. O diretor-executivo da CRVR, Leomyr Girondi, ressalta que o espaço trabalha com cerca de 5 mil toneladas de resíduos ao dia. "Buscando a melhor destinação e reaproveitamento desse material", frisa Girondi.
Somente Porto Alegre, informa o diretor-geral do Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU), Carlos Alberto Hundertmarker, envia cerca de 3 mil toneladas de resíduos e rejeitos ao dia para o complexo. O custo dessa operação, ao mês, é de mais de R$ 11 milhões. Ele recorda ainda que cerca de 200 mil toneladas em resíduos ocasionados pela enchente na capital gaúcha foram destinadas para esse local.
Conforme o diretor-executivo da CRVR, soluções como essa (aterro e produção de energia), se pulverizadas pelo Rio Grande do Sul, permitirão que os municípios diminuam os custos logísticos ao lidar com seus resíduos. Um exemplo citado por ele é o caso da Fronteira Oeste que, aponta o dirigente, pode ser beneficiada com uma proposta semelhante à que foi adotada na Região Metropolitana.
O prefeito de Alegrete, Jesse Trindade (MDB), que esteve presente na cerimônia dessa segunda-feira, revela que, se tudo transcorrer dentro do previsto, em breve será implantado o primeiro aterro sanitário no município e, em dois a três anos, também poderá ser possível produzir energia elétrica ou biometano a partir dos resíduos que serão destinados para o local.
Ele lembra que hoje os resíduos gerados na cidade e na Região da Fronteira Oeste seguem para o aterro localizado em Santa Maria (a cerca de 230 quilômetros de distância). Com a implantação da nova estrutura, esses materiais poderão ser depositados em solo alegretense.
Nova cadeia produtiva favorece tema da transição energética
Para o governador Eduardo Leite, a consolidação da produção de biometano no Rio Grande do Sul é algo perfeitamente associado aos conceitos de sustentabilidade. "Além de dar um tratamento que garante um processo de descarbonização da nossa economia, agrega valor àquilo que antes era totalmente perdido, que são os resíduos urbanos", argumenta o governador.
Leite ressalta que o Estado celebra a atração de investimentos, ainda mais os que trazem o componente da sustentabilidade. No ano passado, assinala o governador, foram anunciados pela iniciativa privada aportes no Rio Grande do Sul na ordem de R$ 100 bilhões, mesmo os gaúchos tendo enfrentado a maior catástrofe climática da sua história. Um dos empreendimentos mencionados por Leite foi o da companhia CMPC, que pretende desembolsar cerca de R$ 27 bilhões em uma fábrica de celulose (e na infraestrutura ao seu redor), em Barra do Ribeiro.
O secretário Estadual de Desenvolvimento Econômico, Ernani Polo, reitera que o governo gaúcho trabalha, dentro do plano de desenvolvimento econômico, com a pauta da transição energética e o biometano se insere nesse contexto. Ele recorda que o projeto de Minas do Leão conta com o apoio do Fundo Operação Empresa (Fundopem/RS - mecanismo de incentivo fiscal que possibilita abatimento de ICMS para novas atividades ou expansão de companhias no Estado).
Por sua vez, a secretária Estadual do Meio Ambiente e Infraestrutura, Marjorie Kauffmann, lembra que a iniciativa também contou com incentivo do Fundo Clima, do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Ela afirma que o Rio Grande do Sul já tem um cenário bastante avançado na questão do tratamento de resíduos sólidos, mas que tem espaço para avançar.
Marjorie salienta que é importante ter um mapeamento para conectar os agentes do setor do biometano no Rio Grande do Sul. "O departamento de energia (da Secretaria do Meio Ambiente e Infraestrutura) trabalha para que a gente possa fazer a contratação desse mapeamento", finaliza a secretária.
Fonte: Jornal do Comércio
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