Saiba mais sobre a esta viagem inusitada e assista o vídeo no final deste post.
Roger Matheus/Arquivo Pessoal |
Percorrer a rota faz parte da jornada de luto e transformação de Roger, registrada pelo projeto Skate Nômade. No Instagram e no canal do YouTube da iniciativa, ele tem relatado cada passo da viagem desde o seu início — 27 de setembro, quando partiu da ponte do Guaíba.
Trata-se também da concretização de um sonho de sua companheira, Ariane Andrada Mônaco, que morreu em 2023 em decorrência de um câncer linfático não Hodgkin. Ela tinha 33 anos.
Roger e Ariane estavam juntos desde 2018 e sonhavam em mochilar. Porém, as condições financeiras sempre foram impeditivas. Enquanto se preparavam para ganhar o mundo assim que fosse possível, ela foi diagnosticada com o câncer.
Foi um período tortuoso, entre quimioterapias e internações, mas também de muita resiliência de Ariane. Roger lembra que, em certo momento, sua companheira garantiu: toda vez que ele visse uma borboleta azul, seria ela. O skatista tatuou essa presença no peito. Aliás, a borboleta azul é um dos símbolos do projeto, presente em adesivos e no shape (tábua) do skate.
— Ariane era uma mulher incrível e batalhadora. Sensível, tinha um coração enorme — descreve Roger. — O homem que sou hoje, de querer ajudar as pessoas e demonstrar amor, nossa, tem muito a ver com a Ariane. Quando a conheci, eu tinha 20 anos. Era um “gurizão”, e ela me moldou.
Ele recorda que a companheira morreu sedada, parando de respirar aos poucos. Roger segurava a mão dela e conversava com a companheira. Sentia que Ariane podia ouvi-lo.
— Prometi que realizaria nosso sonho. Aonde ela estivesse, eu ia encontrá-la depois para contar detalhadamente como foi a jornada. Ia viver tudo isso por nós — conta.
Encontrando propósito
A viagem não começou a ser articulada logo após a partida de Ariane. Roger relata ter enfrentado a depressão, que o fez parar com as atividades físicas (ele é formado em Educação Física, embora nunca tenha atuado na área), tendo perdido 11 kg em seis meses. Sequer sentia vontade de sair de casa.
No entanto, não parou de andar de skate — costumava ir até a Orla do Guaíba com seu longboard, onde ia ouvir música e ter um momento para si. Até que Roger teve um estalo no primeiro trimestre deste ano: aproveitar um período de férias para conhecer Florianópolis (SC).
Só que seria de um jeito um tanto diferente: contornando a ilha da capital catarinense de skate. Durante a empreitada, Roger lista que acampou, fez trilhas, conheceu pessoas e, no final, se emocionou:
— Quando completei a volta na ilha, senti uma imensa felicidade. Eu não parava de chorar, todo mundo ficava me olhando. Na hora também pensei: nossa, é isso que quero para a minha vida.
Roger ansiava por recomeçar, ver coisas novas e ter estímulos diferentes. Quem sabe, em outro país. Percebeu que era hora de retomar o sonho que compartilhava com Ariane e fazer seu primeiro mochilão pela América do Sul, tendo como destino Ushuaia — local que sonhavam em conhecer.
Pé e rodinhas na estrada
A partir da meta estabelecida, Roger planejou a viagem durante meses. Criou planilhas de rotas e locais para passar a noite com auxílio de inteligência artificial. Conseguiu um acordo para ser demitido do emprego de técnico de informática em uma rede hospitalar, onde atuava havia nove anos, e deixou o apartamento que alugava.
Naqueles meses que antecederam a viagem, o skatista passou a morar na casa dos avós, na Restinga — bairro onde ele foi criado. Inclusive, Roger garante que recebeu todo apoio da família e dos amigos para a aventura.
Para o percurso, ele decidiu usar o mesmo skate longboard que ganhou aos 12 anos. Comprou peças reservas, mantimentos, equipamentos de proteção, suportes para as gravações e, munido com duas mochilas, pegou a estrada.
Por enquanto, Roger já passou por Guaíba, Barra do Ribeiro, Tapes, Camaquã, Cristal e São Lourenço do Sul. Em cada município, ele visita pontos turísticos e compartilha as experiências nas plataformas do Skate Nômade.
Até agora, o skatista dormiu em casas de pessoas conhecidas ou de contatos que firmou pelas redes sociais e acampou, mas não descarta futuramente passar a noite em hospedagens (hotéis/hostels/pousadas) a depender da situação.
Sobre possíveis ameaças na estrada e em lugares desconhecidos, Roger pondera:
— Sei que, às vezes, a gente coloca nossa vida em risco, mas tento me cuidar da maneira que eu posso. Estou procurando viver cada dia intensamente, como se fosse o último. Se eu for fazer alguma coisa, tem que ser agora. Não sei o dia de amanhã.
Há outros percalços pelo caminho, como o próprio desgaste físico entre os mais de 30 km entre um municípios — quando pode, utiliza o skate, mas há trechos em que caminha, com períodos de descanso. O clima é outro fator que joga contra. Precisou estender a estadia em Tapes por conta da chuva.
As próprias rodovias podem ser um perigo: há trechos com pequenas pedras que podem desestabilizar o skate. Outro problema pode ser os motoristas.
— Há quem passe rente por maldade. Ou buzina só para assustar. Ainda há gente com essa maldade, mas muitos respeitam — aponta.
Rumo ao fim do mundo
Roger tem uma rota planejada, mas admite que pode não segui-la 100%. Alega estar aberto para desvios no caminho se puder aproveitar e conhecer lugares interessantes. Não tem tempo estabelecido para chegar ao fim do mundo.
Caso dê certo e ainda esteja disposto, pode seguir viagem subindo passando por Chile, Peru, Bolívia, Colômbia e voltar ao Brasil pelo Norte, descendo até o Rio Grande do Sul. Tudo de skate.
Desde 27 de setembro, a experiência tem sido enriquecedora para Roger. Ele cita ter conhecido pessoas incríveis e ter visto lugares que não esquecerá. Acima de tudo, tem sido uma maneira do skatista lidar com o luto.
— Sinto a Ariane viva em mim, em todas as coisas que faço. É um jeito de eu responder o meu amor pra ela — reflete. — Acredito que a Ariane queria muito que eu fosse feliz. Encontrei a felicidade em desbravar o mundo, em conhecer pessoas novas e viver coisas extraordinárias, que ela não pode ter tido a chance de vivenciar. Acho que criei uma missão para poder estar aqui.
No momento de publicação desta matéria, Roger está em São Lourenço do Sul, a 200 km de Porto Alegre. A 3,8 mil km do fim do mundo e da viagem. Ou do começo de uma próxima etapa.
Fonte: GZH
Assista o episódio 1 da viagem de Roger:
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