FEIRA DO LIVRO, a maior a céu aberto da América Latina, começa esta sexta-feira (30) em Porto Alegre
Quem caminha pelas calçadas da Praça da Alfândega, no Centro Histórico de Porto Alegre, entre o som das folhas secas e o burburinho das barracas sendo erguidas, sente que a cidade começa a pulsar num outro ritmo. É o compasso das palavras. Há algo de poético no ar — há mais de 70 anos, inclusive. Talvez porque Mário Quintana — que viveu ali perto, no antigo Hotel Majestic, hoje Casa de Cultura — já tenha escrito que “os livros não mudam o mundo. Quem muda o mundo são as pessoas. Os livros só mudam as pessoas.” E é justamente essa a promessa que se renova a cada primavera literária na Capital gaúcha.
| Alex Rocha/PMPA |
Nesta sexta-feira (31), a partir das 17h, começa oficialmente a 71ª Feira do Livro de Porto Alegre, um dos maiores e mais longevos eventos literários do país. Sob o tema Beba Dessa Fonte, a feira convida o público a buscar na literatura o melhor da imaginação e do pensamento contemporâneo que a literatura pode dar.
A inspiração para o mote, segundo Maximiliano Ledur, presidente da Câmara Rio-Grandense do Livro, veio para reafirmar o evento como um espaço de referência. “A feira do livro de Porto Alegre tem autoridade para apresentar o que há de melhor na literatura. Beba Dessa Fonte é um convite para que as pessoas se aproximem dessa fonte segura, que é a própria feira”, explica.
Serão 17 dias de programação, até 16 de novembro, com atividades diárias das 10h às 20h. A agenda inclui 752 sessões de autógrafos, mais de 300 autores gaúchos, 40 escritores nacionais e 17 internacionais, vindos de países como Filipinas, Egito, Noruega, República Dominicana, Cuba, Itália, Espanha, Argentina e Estados Unidos.
Entre os destaques, a área infantil segue sendo uma das mais valorizadas, como aposta na formação de novos leitores. “É na primeira infância que conseguimos criar o hábito da leitura e o gosto pelo livro”, destaca Ledur.
A edição deste ano também presta homenagem dupla aos Veríssimos — Luis Fernando Verissimo, falecido em agosto deste ano, e Erico Verissimo, que completaria 120 anos em 2025. Ambos representam gerações de escritores que ajudaram a construir a identidade literária do Rio Grande do Sul. Outras homenagens incluem Dyonélio Machado e Maurício Sirotsky Sobrinho, entre nomes que marcaram a história das letras gaúchas.
“São pessoas que fizeram muito pela feira. Ela é feita de todos que, nesses 71 anos, contribuíram para mantê-la viva. Sejam eles autores, patronos, leitores e a própria imprensa, que sempre ajudou a divulgar esse grande evento”, reconhece o presidente da Câmara do Livro.
Enquanto o Memorial do Rio Grande do Sul segue em reforma, parte da programação se estende para o Clube do Comércio, localizado na própria Praça da Alfândega. O local abriga três grandes salas que recebem mesas de debate, palestras e atividades culturais durante o período da Feira. Segundo Ledur, o espaço oferece uma das vistas mais bonitas da Feira, sendo possível ver “o mar de tendas brancas que toma conta da praça”.
Entre as novidades, a 71ª edição lança o podcast oficial da Feira do Livro, transmitido ao vivo pelo YouTube e redes sociais da Câmara Rio-Grandense do Livro. Serão episódios gravados ao longo do evento, com entrevistas, bastidores e conversas com escritores e visitantes. “A ideia é levar a feira para quem não consegue estar presente, ampliando o alcance do nosso conteúdo”, explica Ledur.
Outra retomada esperada é a lista dos livros mais vendidos, que volta após 20 anos inativa. A pesquisa será feita diariamente, com base nas compras realizadas nas bancas da feira. “É algo que o público adora acompanhar. Sempre há surpresas e boas discussões sobre o que está sendo lido”, comenta.
Reconhecida como a “feira-mãe” do Brasil, a Feira do Livro de Porto Alegre segue sendo modelo para eventos literários em todo o país. Ao longo das décadas, se consolidou não apenas como vitrine para autores e editoras, mas como um espaço democrático de convivência. “O ápice da feira é o encontro entre escritor e leitor. Muitos autores que hoje têm reconhecimento nacional começaram lançando seu primeiro livro aqui”, afirma Ledur.
Nesses tempos em que o mundo se acelera e as palavras parecem se perder entre telas e notificações, a feira convida à pausa. Uma oportunidade para sentar na praça, abrir um livro e beber, com calma, dessa fonte que há 71 anos nutre o espírito literário no coração da cidade.
Fonte: Jornal do Comércio
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