O biólogo Henrique Negrello-Oliveira, 28 anos, obteve um feito para poucos: descobriu uma nova espécie de vespa. Trata-se da Messatoporus bisignatus, endêmica de Porto Alegre.
Resultado de um trabalho em três áreas verdes da Capital realizado no ano passado, a novidade tem repercutido no meio científico e foi registrada neste mês na capa da revista britânica Journal of Animal Ecology.
| Arquivo Pessoal |
— A gente encontrou pela primeira vez na história tanto macho quanto fêmea. Essa espécie era desconhecida para a ciência até então — celebra o biólogo, que faz doutorado em Ecologia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Trata-se de uma vespa parasitoide, que costuma se apropriar do ninho de outras vespas (leia mais abaixo). Foram descobertos também os machos de duas espécies antes conhecidas apenas pelas fêmeas: Messatoporus elektor e Messatoporus opacus.
— São duas vespas parasitórias muito parecidas com essa nova — explica.
As descobertas relacionadas às três espécies foram descritas no ano passado na revista Zootaxa, da Nova Zelândia. O fato de tudo isso ter ocorrido em Porto Alegre, cidade onde nasceu e vive, enche o pesquisador de orgulho:
— É uma coisa completamente mágica, é o sonho que todo biólogo carrega dentro de si. Isso acontecer não só na cidade onde nasci, mas a poucos metros da casa onde cresci, é indescritível.
Conhecimento ajuda a conservar espécies
Para Negrello-Oliveira, é gratificante entender melhor as dinâmicas que governam como a biodiversidade se estrutura no espaço:
— Estamos produzindo conhecimento que pode ajudar a conservar essas espécies.
Os trabalhos foram realizados em duas unidades de conservação — Parque Natural Morro do Osso e Refúgio de Vida Silvestre São Pedro — e no Morro Santana. A pesquisa envolveu outros integrantes do Laboratório de Ecologia de Interações do Departamento de Ecologia da UFRGS, responsável por conduzir as atividades.
Segundo Negrello-Oliveira, a ideia inicial da pesquisa não era descobrir alguma espécie nova: era tentar entender como funcionam os mosaicos de campo-floresta encontrados nos morros da Capital. São áreas em que os campos se encontram com florestas grandes.
— Porto Alegre está em uma zona onde o Pampa encontra a Mata Atlântica. Esses mosaicos de campo-floresta são resquícios de Pampa que ficaram preservados em cima dos morros. A gente queria entender como funciona essa borda entre os dois ambientes — esclarece.
Entre outras coisas, a pesquisa envolvia identificar como diferentes ambientes podem ser conectados por meio das espécies que ali habitam. O estudo investigava vespas predadoras que fazem ninho em cavidades.
A coleta de dados ocorreu a partir da instalação de ninhos-armadilha, que são pequenos caules de bambu fechados em uma ponta. Esses ninhos artificiais são prontamente ocupados pelas fêmeas, que começam a caçar suas presas — aranhas, lagartas e grilos — para armazenar alimento para os filhotes.
Outras vespas — as chamadas parasitoides — atacam os ninhos, colocam seus próprios ovos e roubam os recursos armazenados. Quando os pesquisadores coletaram o que havia nos ninhos artificiais, descobriram a nova espécie.
— Encontramos alguns indivíduos de parasitoides e, quando fomos fazer a identificação, vimos que eram um pouco diferentes. Conforme fomos nos aprofundando, chegamos à conclusão de que era uma espécie nova e que havia os machos dessas outras espécies. Foi um encontro fortuito, uma cereja no bolo do nosso trabalho — relata.
O que são vespas parasitoides
Ainda se conhece pouco sobre a nova espécie de vespa, conforme o biólogo. Ela é pequena e tem cerca de dois centímetros de comprimento, contando as pernas e as antenas. Não há informações sobre tempo de vida e acasalamento. Na fase adulta, geralmente se alimenta de néctar.
— Essas vespas descritas acabam tendo papel muito importante de controladoras de populações, o que chamaríamos de controle biológico, como vemos com outros animais — explica.
Entre vespas, aranhas, lagartas e grilos, foram mais de 3 mil indivíduos coletados no trabalho, que estão aos cuidados do Departamento de Zoologia da UFRGS. Um indivíduo da espécie nova foi deixado em uma coleção científica na sede do Morro do Osso para quem quiser conhecê-lo.
— Nosso próximo passo é compartilhar os resultados e as descobertas que fizemos aqui na cidade. Estamos trabalhando nos próximos artigos que sairão desse trabalho — antecipa.
O pesquisador realizará uma palestra sobre a descoberta no dia 6 de dezembro, às 14h, com entrada gratuita, no aniversário do Parque Morro do Osso.
Fonte: GZH
Quer boas notícias todos os dias? E também receber conteúdo de qualidade com o nosso jornalismo de soluções? E ainda, estar atualizado com informações de serviço que ajudam na sua vida, saúde, comportamento e até mesmo sua vida financeira?
E inscreva-se também no Canal de YouTube do nosso editor, o Canal do Renato Martins.
Comentários