"Desejo que tenhamos boas notícias todos os dias"

Chama a atenção o artigo da economista Tatiana François Motta, em artigo recente no jornal Zero Hora (sexta 01/12/17), levantando o tema que há três anos discuto: a necessidade de contar mais histórias positivas no jornalismo brasileiro. Para Tatiana, "sempre  ficamos todos anestesiados, cansados e de certa forma conformados, sendo capazes apenas de replicar más notícias em redes sociais". Confiram o texto completo:

Quando eu estava na faculdade, fui aluna do professor Carrion Jr, se não me engano na disciplina de Formação Econômica do Brasil. Eu gostava muito das aulas dele, em especial pelas histórias e vivências que compartilhava conosco. A aula era às 7h30min e já no início do semestre ele nos apresentou à sua metodologia de avaliação, acho que ele chamava de "notícia do dia". No começo de cada aula, tínhamos que escrever sobre uma notícia daquele dia. O pequeno texto era entregue ao professor, e valia pontos na nota final. Aos protestos quanto ao horário, à dificuldade ou irrelevância da tarefa, ele respondia que qualquer um podia ouvir rádio ou ler um jornal antes da aula (a internet ainda não era comum). E, principalmente, argumentava que o mínimo que se esperava de um futuro economista era que soubesse o que estava acontecendo no país e no mundo, em tempo real (na medida em que isso era possível no século 20).

A exposição constante a coisas ruins esgota nossa esperança.

Lembrei-me do professor e das aulas nos últimos dias. Ao deparar com notícias de tragédias, corrupção, intolerância e violência, pensei que queria ao menos uma notícia no dia que fosse boa. Tenho que concordar com meu antigo professor, não é possível ser um bom profissional ou um cidadão consciente sem saber o que se passa no país e no mundo. Precisamos saber para poder protestar e combater. Esconder-se da realidade não resolve nada, não ajuda ninguém. Mesmo assim, a cada notícia triste ou revoltante, penso no alívio que seria ouvir algo positivo. Apesar de entender a importância de estarmos informados, às vezes parece que a exposição constante a coisas ruins esgota nossa esperança. Em lugar de nos impulsionar para ações positivas, essa avalanche de más notícias sufoca nossa reação. Ficamos todos assim, anestesiados, cansados e de certa forma conformados, sendo capazes apenas de replicar más notícias em redes sociais, ou expressar nossa revolta em palavras agressivas. Desejo que tenhamos boas notícias todos os dias. Que possamos encontrar alguma inspiração que nos dê a força que precisamos para fazer algo que transforme a realidade para melhor.

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