Brasil tem crescimento recorde no 3º trimestre, com PIB em alta de 7,7%

A economia do Brasil registrou expansão recorde no terceiro trimestre de 2020, mas o movimento foi contido pelo setor de serviços e acabou sendo insuficiente para recuperar as perdas vistas no ápice da pandemia de coronavírus no país. O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil cresceu 7,7% no período de julho a setembro na comparação com os três meses anteriores, de acordo com dados divulgados nesta quinta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).


Foto Pixabay


O desempenho foi o melhor desde o início da série, em 1996, e veio depois de contração de 1,5% no primeiro trimestre e de 9,6% no segundo, quando as medidas de contenção contra o coronavírus paralisaram a atividade de ponta a ponta no país. O ritmo da economia passou a ganhar força no final do segundo trimestre, depois de ter atingido o fundo do poço em abril, conforme as empresas foram reabrindo após medidas mais rígidas de isolamento. 

Entretanto, as consequências da pandemia ainda ficam claras quando se olha para o recuo de 3,9% do PIB no terceiro trimestre na comparação com o mesmo período de 2019. Além disso, a economia se encontra no mesmo patamar de 2017, com perda acumulada de 5% de janeiro a setembro em relação ao mesmo período de 2019. "Ainda há perdas a recuperar pela frente. O terceiro trimestre contou com flexibilização (das medidas de isolamento), mas as pessoas ainda estão muito receosas e cautelosas com atividades presenciais. Novos recuos (das flexibilizações) podem ser obstáculos à retomada do PIB", afirmou a coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis.

Tanto os resultados na margem quanto na comparação anual vieram mais fracos do que as expectativas apuradas em pesquisa da Reuters --de crescimento de 9,0% na comparação trimestral e de recuo de 3,5% sobre um ano antes.

SERVIÇOS

No terceiro trimestre, o destaque do lado da produção ficou para o aumento de 14,8% na Indústria, notadamente a alta de 23,7% no setor de Transformação.

O setor de Serviços, que tem o maior peso na economia, também teve forte desempenho, com expansão de 6,3%. Entretanto, sendo o mais afetado pelo isolamento social e com as maiores dificuldades para retornar ao nível pré-pandemia, sua performance aquém foi decisiva para que a economia não conseguisse retornar ao nível pré-pandemia. "Por causa dos serviços, o terceiro (trimestre) não repôs as perdas causadas pela pandemia no segundo. Mesmo com a flexibilização, tanto oferta quanto demanda não voltaram aos patamares pré-pandemia", explicou Palis.

Por outro lado, a Agropecuária contabilizou retração de 0,5% no terceiro trimestre sobre os três meses anteriores, o que se deveu, segundo ao IBGE, a um ajuste de safra. O setor ainda apresenta crescimento no acumulado do ano, de 2,4%, contra quedas de 5,1% da Indústria e 5,3% dos Serviços. "A agropecuária continua positiva e é a menos prejudicada pela pandemia. A queda de agro não quer dizer muita coisa, e a tendência é de crescimento", afirmou Palis. Do lado das despesas, o Consumo das Famílias teve aumento de 7,6% sobre o segundo trimestre, enquanto o Consumo do Governo subiu 3,5%.

Já a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), uma medida de investimento, cresceu no período 11,0%, num desempenho, entretanto, relacionado à base de comparação muito baixa, já que no segundo trimestre a queda foi de 16,5%. "No acumulado do ano, a queda (da FBCF) é de 5,5%. E o país ainda tem investimento em equipamentos importados, e, como o dólar está alto, influencia para baixo”, completou Palis. Em relação ao setor externo, as Exportações de Bens e Serviços tiveram queda de 2,1%, enquanto as Importações caíram 9,6% em relação ao segundo trimestre de 2020, em resultados também influenciados pelo câmbio.

AUXÍLIO

A retomada econômica foi impulsionada por medidas do governo, destacadamente o pagamento de benefício a informais vulneráveis. Outros componentes para a melhora incluíram aumento do crédito, programa de proteção ao emprego e flexibilização monetária, com a taxa básica de juros (a Selic) reduzida à mínima histórica de 2% ao ano. O Ministério da Economia avaliou nesta quinta-feira que o resultado do terceiro trimestre confirma a retomada em V da atividade, quadro que dispensa a necessidade de auxílios do governo para o próximo ano.

Olhando para a frente, a perspectiva é de crescimento no ano que vem, com projeções que vão de 3% a 4% - expectativa, entretanto, que deve ser observada com cautela dada a fraca base de comparação. O governo estima que o PIB irá contrair 4,5% neste ano, em dado revisado recentemente em função do bom resultado esperado para a atividade econômica no terceiro trimestre. Para 2021, foi mantida perspectiva de crescimento de 3,2%. Além da pandemia do coronavírus, a situação fiscal do país também segue como um ponto de atenção e cautela, bem como a retirada do suporte do governo (na forma de auxílio emergencial) e o aumento da inflação.

"A hipótese básica para um crescimento moderado é de que não vai haver deslizes do lado fiscal. Até agora o cenário tem sido de ausência de sinais desse lado, tanto negativos quanto positivos, mas nossa percepção é que essa lição de que a responsabilidade fiscal traz custos políticos foi aprendida", avaliou o economista do banco BV Carlos Lopes, que tem viés de baixa para sua estimativa de expansão do PIB de 4% em 2021.

Notícia original no site do UOL. 

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