ARTIGO: protagonismo feminino, quando as mulheres rompem barreiras - ainda bem!, por Renato Martins

Na live da #AtitudePositiva na semana passada, tive a honra de entrevistar duas mulheres que quebraram barreiras em seus segmentos: a declamadora e radialista Liliana Cardoso é a primeira patrona negra dos festejos farroupilhas no Rio Grande do Sul em toda a história. A engenheira Nanci Walter venceu a eleição no CREA, Conselho Regional de Engenharia e Agronomia, e é a primeira presidente mulher em 87 anos de história! Vocês imaginam o quanto a conquista dessas mulheres significa para a sociedade? Sociedade esta que está descobrindo aos poucos seu protagonismo e tudo isso de maneira muito recente? 

Christina @ wocintechchat.com/Unsplash


Se pararmos para pensar, somente em 1932 as mulheres conquistaram o direito ao voto no Brasil - ou seja,  há menos de 100 anos. Em 1962 é que as mulheres casadas tiveram autorização para sair de casa e trabalhar, imaginem, e puderam também ter direito à herança e a chance de pedir a guarda dos filhos em caso de separação. Impressionante, não é mesmo? Imaginem só, que somente a partir de 1974 elas puderam ter um cartão de crédito, e, 1977 ganharam o direito de se divorciar e em 1979 conquistaram a liberação para começar a jogar futebol. E é incrível que a primeira delegacia para mulheres tenha vindo somente em 1985 e mais surpreendente ainda se formos puxar pela memória e lembrar que apenas na constituição de 1988 elas passaram a ser vistas pela legislação brasileira como iguais aos homens.

Além da Liliana e da Nanci, outros exemplos práticos e históricos estão pipocando em nossa sociedade nas últimas semanas: também no Rio Grande do Sul, a Coronel Patrícia Wisniewsky foi a primeira mulher a ser promovida ao posto de coronel na 3ª Divisão do Exército, que tem a sua sede em Santa Maria. As barreiras, ainda bem, estão sendo quebradas na área da polícia militar e também da civil: a delegada Nadine Anflor, que já é a primeira chefe de polícia no RS, foi eleita na semana passada presidente do Conselho Nacional dos Chefes de Polícia, para o biênio 2021/2023. Ela é a segunda mulher a assumir a presidência da entidade – apenas a delegada Marta Rocha, da Polícia Civil do Rio de Janeiro, havia ocupado o cargo, em 2013. E é maravilhoso ver que essas vitórias todas acontecem dentro de um estado considerado conservador e machista. 

No resto do Brasil, os progressos também são vistos como grandes troféus: pela primeira vez, a lista tríplice para o Tribunal Superior Eleitoral é composta apenas de mulheres! As advogadas Ângela Cignachi Baeta Neves, Marilda Silveira e Maria Claudia Bucchianeri Pinheiro concorrem ao cargo de juiz substituto - um fato inédito em 89 anos da fundação da corte eleitoral. O nome será agora encaminhado ao Palácio do Planalto para que o presidente Jair Bolsonaro faça a escolha. Os nomes das três juristas foram propostos pelo presidente do TSE, ministro Luís Roberto Barroso. A sugestão recebeu o apoio dos ministros Edson Fachin e Alexandre de Moraes, que, assim como Barroso, também compõem o Supremo.

Paralelamente, um levantamento da empresa de recrutamento e seleção Vagas.com mostra que as  mulheres brasileiras registraram aumentos salariais maiores nos últimos anos. Pelos dados apurados, a alta foi de 18% na remuneração de 2019 a abril de 2021, representando o dobro do resultado conquistado pelos homens, que foi de 8,64%. O salário médio das mulheres, de 1998 a 2018, saltou de R$ 3.232 para R$ 3.814, enquanto o do profissional masculino passou de R$ 4.070 para R$ 4.422. Ou seja, o estudo mostra que, apesar de ainda ganharem menos do que os homens, a diferença salarial das mulheres diminuiu de 21% para 14%  no país.

O caminho é longo e ainda há muito para ser conquistado. Mas os sinais são concretos e evidentes, e jogam uma luz sobre a valorização da mulher em todos os campos. Penso que a mídia tem um papel fundamental ao noticiar esses avanços, e para que os processos evolutivos na sociedade sejam acompanhados de perto por todas as esferas sociais - para garantir, inclusive, que não haja retrocesso.

Renato Martins, jornalista e professor, editor da Rede #AtitudePositiva.





   

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