Com safra histórica, RS se transforma em solo fértil para produção de azeite de oliva

Um cultivo que chegou a ser proibido pela Coroa Portuguesa, para evitar concorrência com a produção do outro lado do Atlântico, ganha raízes e cresce no Rio Grande do Sul. Dois séculos depois da censura imposta pelos colonizadores, a produção de azeite de oliva no Estado atingiu a marca histórica de 202 mil litros em 2021, segundo estimativa da Secretaria da Agricultura.

Olivas de Gramado/Divulgação 

A safra deste ano é quatro vezes maior que a de 2020, quando ficou em 48 mil litros, e também supera os 198 mil litros de 2019 — que, até então, figurava como o recorde gaúcho (veja os números abaixo).

Reintroduzida no Estado há 15 anos, a produção do "ouro líquido", como é chamado, não atrai apenas agricultores. A arte milenar vem conquistando profissionais de outras áreas: são empresários, engenheiros, advogados, entre outros, que se encantam com os frutos da árvore do Mediterrâneo — cujo início do cultivo remonta a 6.000 a.C.

Quase 7 mil hectares se transformaram em pomares de oliveiras no RS. Mas apenas 35% deste total está apto a produzir fruto. Isso porque a planta leva cerca de quatro anos para começar a desenvolver as primeiras azeitonas — depois disso, ela segue fecunda até a última seiva.

Conforme o presidente do Instituto Brasileiro da Olivicultura (Ibraoliva), Renato Fernandes, a estimativa é de que o Rio Grande do Sul tenha capacidade para um milhão de hectares.

— Nós estamos recém dando os primeiros passos. A cada ano aumenta o número de olivais, aumenta a produção. Se encaminha para uma nova fronteira agrícola no Brasil. É um mercado em franca expansão — avalia.

O engenheiro elétrico Marcelo Costi Pereira, 45 anos, é uma dessas pessoas de fora do campo que resolveu adentrar no mundo dos olivais. Mesmo tocando uma empresa em Canoas, na Região Metropolitana, ele adquiriu 20 hectares de terra em Caçapava do Sul, na Campanha.

— As primeiras mudas chegaram em março de 2008. Era um negócio para o futuro, para aposentadoria. E já se vão 13 anos neste ramo — conta.

Com 6,25 hectares plantados, Costi colheu 42 toneladas de fruta neste ano — a maior marca até agora. Mesmo com o recorde, ele explica que a produção ainda não é economicamente viável.

— A oliveira tem alternância, com um ano bom e outro de quebra. Temos que diminuir isso. Temos muito o que aprender sobre o manejo, sobre a técnica. É uma cultura ainda muito nova — observa.

Sobre isso, Antonio Borba, da gerência técnica do Escritório Central da Emater/RS, explica que essa é uma espécie cultivada preferencialmente entre as latitudes 30° a 45°, tanto nos hemisférios norte e sul, e depende de verões secos e quentes e invernos com baixas temperaturas e pouca chuva.

— Por ser uma cultura recente, sem muita tradição em solo gaúcho, o grande desafio é avançar no conhecimento sobre o seu manejo, para manter a produção estável — defende.

Para Borba, as oliveiras representam uma grande alternativa para a agricultura do Estado, principalmente para a Metade Sul.

— Temos uma boa capacidade de produção de azeite de alta qualidade. E há espaço no mercado interno, pois só 1% do consumo é de azeites brasileiros — destaca.

Pioneirismo feminino

Responsável pelo primeiro azeite de oliva extravirgem do país, Vani Maria Ceolin Aued, 65 anos, está à frente da Olivas do Sul, agroindústria localizada em Cachoeira do Sul, na região central do Estado. Em parceria com o marido, José Alberto Aued, 67 anos, ela ergueu um pomar de 12 hectares em 2006.

Hoje, são 25 hectares e mais uma área com o quadruplo do tamanho em Encruzilhada do Sul, no Vale do Rio Pardo. Cidade, inclusive, que desponta como principal polo da olivicultura do país. Ela conta que o primeiro azeite foi produzido em 2010, às pressas:

— As árvores estavam carregadas e tivemos que buscar uma máquina extratora. Foi o primeiro azeite que foi ao mercado, foi pouco, cerca de 700 litros. Restava saber a qualidade desse azeite. Mandamos uma amostra para o guia Flos Olei, da Itália, que lista os 500 melhores azeites do mundo e fomos citados com um boas-vindas ao Brasil no mundo dos azeites — relembra.

Para Vani, o segredo para quem quer investir é começar certo.

— Escolher uma área correta, com uma insolação boa, com uma terra boa. E depois fazer a correção do solo, com bastante calcário. Daí não tem como errar, já parte de outro patamar — considera.

Interesse no Estado

O publicitário e empresário Bob Vieira da Costa, 58 anos, já contava com um pomar em Santo Antônio do Pinhal, em São Paulo, em 2014. Mas decidiu investir no solo gaúcho atrás de mais espaço e incentivos.

Ao todo, são 110 hectares em Encruzilhada do Sul, com espaço para mais 50 hectares. No local já há pomares de oliveiras e de uvas.

— Também estamos com a construção de um largar (onde se extrai o azeite) prevista, já na fase de liberação com os órgãos oficiais. A região é belíssima. Muito em breve, Encruzilhada será um polo forte para a olivicultura, mas também para o turismo — observa.

Para Bob, o desafio é investir em conhecimento para garantir um bom cultivo, com a preparação adequada do solo.

— Podemos não ter a quantidade produzida no Mediterrâneo ou no Chile, mas em termos de qualidade, não perdemos em nada — assegura.

Volume de azeite de oliva produzido no RS *

2016: 32 mil litros

2017: 57 mil litros

2018: 58 mil litros

2019: 198 mil litros

2020: 48 mil litros

2021: 202 mil litros 

* Fonte: Secretaria da Agricultura do RS


Com informações de GZH





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