Campanha nacional contra poliomielite começa nesta segunda-feira (8)

Está começando nesta segunda (8) mais uma grande campanha de vacinação, em todo o Brasil. Mas a doença em questão não é nova: pelo contrário, é muito antiga. A Poliomielite, conhecida também por paralisia infantil, é uma doença contagiosa aguda causada pelo poliovírus, que pode infectar crianças e adultos por meio do contato direto com fezes ou com secreções eliminadas pela boca das pessoas doentes e provocar ou não paralisia. Nos casos graves, em que acontecem as paralisias musculares, os membros inferiores são os mais atingidos. A vacinação é a única forma de prevenção. Todas as crianças menores de cinco anos devem ser vacinadas.

A doença permanece endêmica em três países: Afeganistão, Nigéria e Paquistão, com registro de 12 casos. Nenhum confirmado nas Américas. Como resultado da intensificação da vacinação, no Brasil não há circulação de poliovírus selvagem (da poliomielite) desde 1990.

Tomaz Silva/Agência Brasil

No entando, as taxas de cobertura vacinal no Brasil vêm caindo: no ano passado, menos de 70% do público-alvo foi vacinado. Este ano, nem metade das crianças que precisam tomar a primeira dose da vacina foi aos postos de saúde. Por isso, o governo está lançando nesta segunda-feira uma campanha nacional de multi-vacinação com foco na prevenção da poliomielite. A ideia é colocar em dia a carteira das vacinas das crianças, mas com foco na imunização contra a paralisia infantil. No caso de outras doenças, as taxas de cobertura vacinal vêm caindo nos últimos anos, como já foi detectado recentemente com o sarampo.

A pandemia agravou essa situação: o Fundo das Nações Unidas para a Infância, Unicef, revela que desde 2015 ocorre uma queda da imunização entre menores de 5 anos. Em 2019 a proteção contra sarampo, caxumba e rubéola era de 93%. Já em 2021, os números caíram para 71%. A recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) é uma abrangência mínima de 95%. 

No caso da polio, a aplicação é feita aos 2, 4 e 6 meses com doses injetáveis. A campanha terá essas doses e o reforço, em gotas, e será para todas as crianças de 1 a 4 anos que já tomaram as três primeiras doses injetáveis. O grupo-alvo são os mais de 14 milhões de crianças menores de 5 anos. A campanha começa hoje e vai o dia 9 de setembro.

Além da polio, os cerca de 40 mil postos em todo o país vão aplicar todas as vacinas que fazem parte do calendário de crianças e adolescentes menores de 15 anos, inclusive a da Covid.

Eliana Bicudo, da Sociedade Brasileira de Infectologia faz um chamado aos pais:

"A gente sabe que o vírus da poliomielite circula no mundo e, ao circular no mundo, num pulo - a gente viu com a Covid-19, estamos vendo com a monkeypox - é a chegada desse vírus novamente para circular no Brasil, se não está circulando já. Nós temos crianças, portanto, suscetíveis a desenvolver essa doença tão grave. São os pais que teriam que perceber que eles não podem submeter as suas crianças ao risco de desenvolver uma doença que pode ter sequelas a vida inteira", explica.

Consequências do baixo índice de vacinação

1. Retorno de doenças erradicadas

Um estudo conduzido pela Unicef apontou uma baixa percepção entre os pais e responsáveis do real risco que essas doenças representam – por nunca terem convivido com a condição, muitos entendem que a vacina já não é mais necessária. 

Não imunizar pode colocar todos em risco. Em 2016, por exemplo, o Brasil conquistou o certificado de eliminação do vírus do sarampo. Entretanto, em 2018 a doença voltou. Com mais de 10 mil casos confirmados na época, segundo o Ministério da Saúde, o país acabou perdendo a certificação. Poliomielite, rubéola e difteria são algumas das doenças que podem ressurgir devido à baixa cobertura vacinal, de acordo com informações da Agência Brasil.


2. Crianças mais expostas a doenças 

O Sistema Único de Saúde (SUS) disponibiliza 18 vacinas para as crianças e adolescentes. Todas protegem contra doenças que podem causar problemas sérios e até a morte, especialmente entre aqueles com sistema imunológico comprometido ou em desenvolvimento, como os recém-nascidos e os bebês. 

Uma dessas doenças é a poliomielite, erradicada do país em 1994. Causada por um vírus do intestino, costuma atingir crianças menores de 4 anos. Quando grave, pode causar sequelas permanentes, como paralisia, insuficiência respiratória e, em determinados casos, óbito.

No caso da Covid-19, há risco de complicações como a Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica (SIM-P), quando a criança desenvolve inflamação em diferentes órgãos, e a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), que leva a desconfortos respiratórios e queda na saturação – esse último, também pode ser consequência da contaminação pelo vírus influenza, causador da gripe. Não à toa, as crianças menores de 5 anos são público-alvo das campanhas de imunização contra a influenza. No início de junho, a vacinação contra a gripe atingiu uma cobertura de apenas 44% considerando todos os grupos prioritários, de acordo com o Ministério da Saúde.

3. Mais vetores de transmissão e novas variantes

Um estudo da Escola de Medicina de Harvard em parceria com o Brigham and Women’s Hospital e com o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) atestou altas cargas virais de SARS-CoV-2 entre bebês, crianças e adolescentes que testaram positivo para o novo coronavírus. Publicada em outubro de 2021 e conduzida com 110 pessoas com idade entre duas semanas e 21 anos, a pesquisa mostrou que, assim como os adultos, as crianças e jovens são potenciais transmissores de Covid-19, mesmo quando assintomáticos. De acordo com os especialistas, os pequenos são como “reservatórios” para a evolução de novas variantes do vírus SARS-CoV-2, que podem ser mais contagiosas e, consequentemente, adoecer mais crianças. 

4. Aumentos de outras doenças 

Doenças que podem trazer graves consequências na vida adulta, se não houver imunização, também preocupam, analisa o Unicef. É o caso do papilomavírus humano (HPV), causador do câncer de colo do útero. Segundo a organização, apenas 13% das meninas de todo o mundo estão protegidas contra a condição – a vacina está disponível no PNI para meninas de 9 a 14 anos e meninos de 11 a 14 anos. Graças a esse imunizante, o câncer cervical pode ser o primeiro tipo a ser completamente eliminado, e a vacinação é essencial para isso. De acordo com a OMS, isso é possível se 90% das meninas e das jovens de todo o mundo forem vacinadas contra o HPV, se 70% das mulheres fizerem exames regulares e se 90% das pacientes com alguma doença cervical tiverem acesso a tratamento. 

Então, a polio está erradicada no Brasil, que não registra casos há mais de 30 anos. Mas ningém quer a doença de volta, não é messmo?

Leia o serviço completo da campanha no site G1

Com informações também do Instituto Butantan

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