Conheça o gari Fábio Jesus, melhor brasileiro na São Silvestre, que foi campeão aos 14 anos com pés descalços

Melhor brasileiro com o quarto lugar na 97ª Corrida Internacional de São Silvestre, realizada neste sábado, o baiano Fábio Jesus Correia segue acumulando marcas expressivas em uma carreira que começou por acaso e capaz de superar diversas adversidades. Descoberto aos 14 anos ao correr com os pés descalços, ele concilia a rotina de maratonista com o trabalho como coletor de lixo em São Paulo.

Arquivo Pessoal

Fábio Jesus Correia registrou a marca de 46min13s na prova masculina e só ficou atrás de competidores da Uganda e da Tanzânia.

Pódio masculino

  1. Andrew Rotich Kwemoi (Uganda) - 44min43s
  2. Joseph Tiophil Panga (Tanzânia) - 45min17s
  3. Maxwell Kortek Rotich (Uganda) - 45min42s
  4. Fabio Jesus Correia (Brasil) - 46min13s

Após cruzar a linha de chegada na São Silvestre, Fábio se emocionou ao lembrar da mãe, que morreu em 2020. Ele deixou a Bahia rumo a São Paulo quando ela já estava acamada e não conseguiu retornar à cidade natal para acompanhar o enterro.

Aos 24 anos, Fábio começou a vida no atletismo ainda quando tinha 14 . Descalço, ele venceu a Corrida da Paz, promovida pelo seu conterrâneo Ivanildo Dias.

- O atletismo começou na Bahia. O Ivanildo fazia esse incentivo para as crianças. Corri de pés descalços e fui campeão. Ele falou que eu teria futuro e que quando eu quisesse me deva oportunidade em São Paulo.

"Hoje eu tenho tênis bom, mas naquele tempo não tinha. E o que tinha incomodava. Então corri descalço e consegui ser campeão".





A chegada a São Paulo, em 2019, não foi motivada por uma oportunidade no atletismo. À época, decidiu mudar de cidade por uma proposta de emprego como coletor de lixo. Pai aos 16 anos, o baiano tem uma história de muita luta. Além de gari, ele já trabalhou em uma fazenda cuidando do capim e do gado e também foi motorista de Uber.

Em São Paulo, Fábio concilia o trabalho com os treinos. Aos poucos, o empenho com apenas duas ou três horas de sono deu resultado e, em 2019, ele passou a integrar a equipe de atletismo São Paulo FC/Kiatleta.

- Vim para São Paulo com trabalho certo. As oportunidades batem na porta, tive que seguir meu rumo, vim para cá. E eu comecei a trabalhar e a treinar no clube também. E aí comecei, fui tomando gosto.

"Eu trabalho todo dia à noite e treino durante o dia. Dorme bem pouco. Durmo duas horas, três horas por dia. Deus dá força, e a gente consegue", continua.

Desde então Fábio empilha resultados expressivos. Entre as conquistas até aqui, o baiano liderou o ranking brasileiro sub-23 nas provas de 5 mil e 10 mil metros rasos. Em 2021, representou o Brasil no Sul-Americano de Atletismo, em Guayquil, no Equador, e ficou com o ouro nos 10 mil metros e prata nos 5 mil metros.

Mas ele quer ir bem mais longe.

"Todo atleta quer chegar nas Olimpíadas. Não custa nada sonhar e fazer acontecer. Vamos levar a Bahia para longe", conclui.

Leia a reportagem original no Globo Esporte

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