LEITURAS DE DOMINGO: Etarismo no trabalho, como lidar com o preconceito da idade?

Os últimos dados do Sistema do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados do Ministério do Trabalho e Emprego (Caged/MTE), que traz estatísticas do emprego formal por meio de informações captadas dos sistemas eSocial, Caged e Empregador Web, mostram um saldo, em abril de 2023, entre admissões e demissões formais no Brasil de 180.005 vagas.

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Desse total, o grande contingente de oportunidades - 108.466 posições - era destinado a pessoas com idade entre 18 e 24 anos, contra 1.632 vagas para pessoas com idade entre 50 e 64 anos. Acima de 65 anos, o saldo foi negativo em 4.089 vagas. 

Os números levam à reflexão sobre o etarismo, preconceito contra pessoas por causa da idade. A questão vem sendo discutida mais recentemente na sociedade brasileira pelo fato de estar batendo à porta de milhares de profissionais. Eles tiveram uma trajetória laboral marcada por conquistas, lutas, prêmios, erros e acertos, mas ao chegarem entre os 50 e 60 anos (idade que marca a ‘categorização’ do idoso no Brasil) são descartados pelo mercado de trabalho.

Nos dois últimos anos, principalmente depois da pandemia, quando a sigla ESG ganhou destaque no mundo corporativo - com ênfase nas ações empresariais focadas no social, meio ambiente e governança - a temática vem sendo discutida com mais abertura. 

A questão é tão atual que uma pesquisa da plataforma de vagas de empregos Infojobs revelou que 57% dos 1.222 profissionais ouvidos já passaram por algum episódio de preconceito devido à sua idade. Ao todo, 55% dos participantes do estudo fazem parte da geração X (nascidos entre meados da década de 1960 até 1979), 36% da geração Y  (nascidos entre 1980 e 1989) e 9% da geração Z (nascidos entre 1990 e 2010). 

O levantamento da Infojobs indicou ainda que o conflito etário no mercado de trabalho atinge os mais jovens também: 73% dos profissionais da geração Y e Z sentem que são subestimados por serem mais novos. Por outro lado, 66% dos profissionais da geração X sentem que os mais novos duvidam de seu profissionalismo.

"Mulheres e homens acima de 50 são jovens", diz headhunter

Na visão do headhunter e CEO da Prime Talent Executive Search, David Braga, mulheres e homens acima de 50 anos são jovens, ativos, no auge da produtividade, e têm ampla bagagem profissional e pessoal para contribuir nas organizações. 

“As empresas buscam cada vez mais  conhecimento, assertividade e redução de custos, em um mundo cada vez mais competitivo. As que têm estratégias mais bem desenhadas valorizam os profissionais mais seniores, uma vez que eles trazem bagagem profissional, traquejo nas relações socioprofissionais, repertório de vida e expertise em suas áreas de atuação. Mais do que isso, são pessoas comprometidas com a longevidade da companhia, no médio e longo prazo”, avalia.

Mas, ainda assim, apesar da experiência ser um ativo profissional interessante, Braga cita pesquisa feita pela Great Place to Work (GPTW) Brasil que mostrou que, mesmo entre as melhores empresas para se trabalhar, a inclusão etária está longe de alcançar altos patamares, onde apenas 3% de profissionais idosos integram uma das 150 melhores empresas avaliadas. 

“Não se pode generalizar, mas ainda existe uma prática de algumas empresas buscarem, majoritariamente, por profissionais de até 45 anos, mesmo para posições de alta gestão (gerentes e diretores). A meu ver, se falamos cada vez mais de empresas responsáveis e conectadas às práticas ESG, cabe ao board delas, desde os conselhos de administração até a alta gestão, bem como o setor de Recursos Humanos, não apenas discutir, mas implementar práticas efetivas para reter e contratar profissionais mais experientes”, acrescenta. 

Conflitos 

A pesquisa da Infojobs apontou que com várias gerações convivendo dentro das organizações é normal que o conflito entre visão de mundo apareça. No estudo, 76% dos profissionais da geração Y ou Z acreditam que seus colegas da geração X são resistentes a posicionamentos dos mais jovens. 

Para 80% dos entrevistados, os conflitos de gerações são normais no mercado de trabalho e 62% já precisaram lidar com situações do gênero. Entre as causas para os conflitos acontecerem estão os diferentes posicionamentos e posturas no ambiente de trabalho, com 37% das respostas cada, seguido por formas de falar, com 17%. Mesmo assim, apesar das desavenças,  82% acreditam que conviver com pessoas de diferentes idades permite que os profissionais se desenvolvam, tendo contato com outras visões de mundo. 

Atualização 

Na opinião do headhunter David Braga, é pertinente que os profissionais com mais experiência se mantenham atualizados quanto às melhores práticas de mercado e atentos às novas tendências e tecnologias, para não se tornarem obsoletos. 

“Por isso o autoconhecimento é primordial, para aprimorar aquelas competências que ainda se fazem necessárias, sejam elas competências e habilidades comportamentais, sejam as de conhecimento técnico. Outro ponto relevante é os mais seniores não adotarem postura de vitimismo, mas sim de protagonismo na busca de oportunidades no mercado e onde possam ser desfiados(as) diariamente. E os mais jovens, terem humildade para escutar e aprender com os mais experientes. É uma troca entre gerações e é preciso ver o copo meio cheio e não meio vazio. Entre milhares de empresas no Brasil, é preciso buscar aquelas que têm práticas humanizadas e de valorização das pessoas”, conclui.

Fonte: O Tempo

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