LEITURAS DE DOMINGO: Café da manhã na rua vira moda no Rio de Janeiro e cariocas pulam da cama mais cedo

O que era só um momentinho “pão na chapa com pingado” para começar o dia ganhou status de programa imperdível no Rio de Janeiro. As mesas fartas e coloridas de café da manhã e brunch que andam fazendo sucesso por aí estão atraindo os cariocas com opções variadas de cardápio, do suco de laranja ao cappuccino gelado, do ovo poché ao quiche, passando por vários tipos de pães e doces. Mas a motivação para deixar a preguiça de lado e levantar mais cedo da cama vai além dos menus. Revelou-se uma forma diferente e mais gostosa de curtir a cidade.

Tomas Rangel/Divulgação


Acostumada a ter uma boa refeição logo no início do dia, Aline Braz, de 43 anos, conta que não abre mão de ir ao Dianna Bakery, na Tijuca, para acordar com o pé direito e pedir o seu prato queridinho: o Tijucroque, um sanduíche feito com brioche, queijo muçarela, cream cheese, peito de peru defumado e pesto de manjericão. Para completar, não pode faltar a torta de nozes, campeã de vendas do estabelecimento. A relações públicas conta que, muitas vezes, a alimentação costuma anteceder uma outra programação.

"Eu sempre gostei de tomar bons cafés da manhã, eles costumam até anteceder alguma outra programação, como ir à praia, por exemplo. Gosto de ter esse momento de sentar e desfrutar uma boa comida. No entanto, quando eu queria tomar somente o café, eu sentia falta de um lugar aqui na Zona Norte", destaca Aline, antes de completar: "Muitas vezes atravessei o túnel para ir a um restaurante. Quando eu descobri o Dianna fiquei encantada porque a qualidade daqui é excelente. É muito bom".

A refeição se tornou um dos programas favoritos de Aline e do namorado Gui Albuquerque, de 35 anos. Apesar de não ser de hábitos diurnos, o comediante admite que se rendeu aos desejos da amada:

"Vejo que ela gosta muito, então, acabou me influenciando. Eu até fico mais atento por causa dela, atrás de ver lugares e tudo mais. Assim como saímos para almoçar e jantar, adoramos ir tomar café, nos sentimos muito bem".

Proposta diurna

Inaugurada na pandemia, na Rua Santo Afonso, a casa, que é comandada pela confeiteira Dianna Macedo e por Teca, que é formada em Direito e barista, cresceu e se mudou para um local maior na Rua Dona Delfina. Tijucanas de carteirinha, as duas dizem que nunca pensaram em outro lugar para abrir o negócio. Gostam do bairro e não fazem segredo. Em uma das paredes está escrito: “Made in Tijuca”.

"Quando começamos, a única exigência da Teca foi para que abríssemos aqui no bairro. Fomos recebidas muito bem e hoje contabilizamos cerca de 7 mil clientes por mês. As cestas também são um sucesso, principalmente em épocas festivas", diz Dianna.

Para além dos momentos de lazer, as cafeterias se tornaram um ambiente confortável para quem quer fugir um pouco da rotina do home office. Pensando nisso, o Dainer, em Botafogo, apostou no refil de café, de segunda a sexta-feira, das 9h às 12h. A novidade foi celebrada pela arquiteta Gabriela Basílio, de 27 anos.

"Eu tenho escritório, mas volta e meia tenho que ficar perto de alguma obra. Aqui no Dainer tenho mesa, tomada para trabalhar e um ótimo atendimento. Eu basicamente venho e tomo café, mas quando estou com fome acabo almoçando", conta Gabriela.

Inspirado nos diners americanos, daqueles que têm nichos com sofás, mostarda e ketchup na mesa, o restaurante conta com café da manhã, almoço e coquetel. Também à frente do bar Quartinho e do restaurante Pope, Edu Araújo explica que a casa funciona até as 20h e não surgiu com o espírito de noitada.

"Nós introduzimos a coquetelaria às 10h porque tem gente que gosta de beber cedo e prefere estar dormindo quando a noite chega. O café aqui está sendo um verdadeiro sucesso, e o Dainer vai se encaixando ao longo do dia na vida do carioca. O cliente pode aproveitar o brunch, almoçar, e depois vir tomar um drink ao fim do dia. Temos um cardápio fortíssimo e com opções leves", ressalta Edu.

Com média de 15 a 20 mil pessoas por mês, o Dainer tem no Beluga, um ovo beneditino com camarão e ovas de peixe-voador, e no trio de pães de queijo assados na lenha com catupiry e geleia de goiaba, seus carros-chefe.

Ter uma alimentação balanceada e estar em contato com a natureza é essencial para a professora de yoga Adriana Camargo, de 53 anos. Moradora de Botafogo, a professora brinca que é um patrimônio imaterial do Empório Jardim, na Casa Firjan, ali mesmo no bairro, e não começa o dia antes de beber um suco detox ou comer um creme de abacate. A paixão pelo lugar contagiou toda a família e já é tradição separar um dia do mês para visitar o restaurante.

"Ter uma refeição deliciosa logo depois que você acorda traz um bem-estar enorme, tanto físico quanto emocional. É diferente da experiência de tomar café em casa e sair", diz Adriana.

Outro comportamento

Com 112 opções no cardápio e padaria própria, o Empório se destaca pela variedade de produtos, incluindo os vegetarianos, veganos e sem lactose. Em suas três unidades — Botafogo, Jardim Botânico e Ipanema —, recebe cerca de 25 mil pessoas por mês. Quando nasceu, o estabelecimento revolucionou o mercado: era o único local de café da manhã que não oferecia combos, mas pães, doces e comidinhas à la carte. A sócia Branca Lee acredita que fugir da modalidade fez a diferença e, ao mesmo tempo, foi o maior desafio. Além disso, o Empório foi pioneiro em servir café da manhã o dia todo:

"Eu acho que a graça é chegar e tomar café da manhã a hora que for. O carioca busca essa diversidade e no fim de semana nós sempre temos fila. Não é uma questão operacional simples, mas nós conseguimos oferecer um menu vasto e que atende a todos os bolsos. Você consegue fazer uma refeição mais simples ou comer um item mais caro".

Assim como o Empório, o Arp Bar (foto neste post), no Arpoador, investe na combinação de café da manhã com bela vista para a praia, das 7h às 12h, e virou point de comemorações.

"O movimento do café da manhã é muito forte. No fim de semana o pessoal faz fila. A média é de 4 mil pessoas por mês. A procura é muito grande porque somos o único restaurante do Rio com toda essa possibilidade de areia e mar", afirma o chef Lucas Lemos.

O presidente do Sindicato de Bares e Restaurantes do Rio (SindRio), Fernando Blower, afirma que o crescimento do setor é uma tendência no Rio. Blower acredita que o número de estabelecimentos aumentará com a procura:

"É um movimento de mudança de comportamento contínuo, tanto do lado da demanda quanto da oferta. Gastronomia é um investimento caro, então acredito que muitos desses lugares vão adotar o almoço e o jantar. Esse setor também atrai turistas porque eles buscam experiências memoráveis, com ingredientes da cultura local e lugares em pontos estratégicos da cidade."

Fonte: Agência Globo e Exame



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