Enquanto o Rio Grande do Sul era devastado pelas enchentes que assolaram o Estado no mês de maio, uma mulher de 29 anos, moradora do bairro Bela Vista, em Porto Alegre, que estava sem água em casa, decidiu contratar um caminhão-pipa encontrado em um anúncio. A empresa oferecia o serviço por um preço abaixo do mercado. Após efetuar um Pix para pagamento do serviço, ela não conseguiu mais contato com a suposta prestadora. Era um golpe, e ela perdeu R$ 300.
Polícia Civil / Divulgação |
Em Bento Gonçalves, na Serra, a funcionária de uma pousada onde havia três pessoas ilhadas no telhado quase foi vítima do chamado "golpe do helicóptero". Ela recebeu uma proposta pelas redes sociais para resgate ao custo de R$ 4 mil, sendo que R$ 2 mil deveriam ser pagos adiantados. Desesperada, a mulher quase efetuou o pagamento, mas desistiu ao ser orientada pela promotora de Justiça Cláudia Rodrigues Pegoraro, e conseguiu o resgate com ajuda da Polícia Rodoviária Federal (PRF).
Apesar das diferentes modalidades de golpes e fraudes registradas durante a tragédia climática, o Rio Grande do Sul teve redução de 57% nos estelionatos em maio. Segundo dados da Secretaria da Segurança Pública (SSP), foram registrados 3.533 casos no mês passado. No mesmo período de 2023, o Estado havia somado 8.261 ocorrências deste tipo.
O mês passado também teve o menor índice dos últimos cinco anos. Desde 2021, o número de registros deste tipo de crime no mês de maio não ficava abaixo de 8 mil.
A despeito da diminuição, o volume de ocorrências ainda aponta média de 118 casos de estelionato registrados por dia no RS.
Estelionatos virtuais lideram registros
Segundo a diretora do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), Vanessa Pitrez, os dados dão sequência à queda no número de ocorrências que vinha se repetindo nos últimos meses. Ela diz que não houve subnotificação em decorrência das cheias e afirma que a redução se deve ao trabalho ostensivo da Polícia Civil.
— A gente tem implementado e fomentado o trabalho da Delegacia de Crimes Cibernéticos, especialmente na questão dos estelionatos virtuais que são a grande maioria da nossa demanda. A partir desse ano, a gente implementou novas estratégias e novos protocolos de atuação dentro da delegacia. Passamos a analisar os casos de uma maneira mais global, correlacionando golpes que poderiam ter, ou que tinham, o mesmo modus operandi e que poderiam ser praticados pelo mesmo grupo criminoso — explica a delegada.
Trabalho de inteligência e repressão
O delegado João Vitor Herédia, titular da Delegacia de Repressão aos Crimes Informáticos e Defraudações (DRCID), destaca a importância do trabalho de inteligência da Polícia Civil no combate aos golpes virtuais. A força-tarefa montada para coibir os ataques durante a calamidade pública no RS resultou em duas operações que desarticularam esquemas com tentáculos em São Paulo e Santa Catarina. Em ambos os casos, adolescentes eram usados para operacionalizar os golpes.
Herédia também descarta a possibilidade de subnotificação dos casos. Segundo ele, a possibilidade de registro de boletim de ocorrência pela delegacia online descarta o risco de subnotificação, pois as pessoas poderiam registrar os casos sem sair de casa — embora milhares de clientes tenham passado semanas sem energia elétrica. Ele atribui a queda nos golpes às operações diárias que são desenvolvidas pela Polícia Civil.
— A gente atua muito nessa parte repressiva, com as operações, com as prisões, mandados de busca. Atuamos muito no meio virtual também, com cautelares no meio tecnológico, bloqueio de contas, exclusão de perfis. Então, a gente atinge eles não só nessa parte ostensiva, através dos mandados de busca e prisões, mas também no meio virtual. A gente consegue bloquear a ação deles de várias formas — destaca.
Dicas para se proteger
- Não acredite em lucro fácil ou vantagens que pareçam muito atrativas. Essa é a principal estratégia dos golpistas para atrair vítimas
- Não acredite em desconhecidos que lhe abordam na rua ou por telefone. Não acesse links na internet dos quais não tem segurança. Desconfie
- Converse com familiares, amigos ou mesmo gerente de banco se tiver desconfiança. Estelionatários tentam criar meios de impedir que a vítima busque orientação, como mantê-la ao telefone, para que não seja alertada
- Tome cuidado ao imprimir segunda via de boleto em sites e ao fazer compras online. Golpistas podem criar sites falsos para enganar os clientes
- Quando fizer uma compra online, guarde num arquivo no computador o link da compra. Pode ser útil para a investigação, em caso de golpe
- Não faça depósitos bancários e nem recargas de celulares para quem não conhece.
- No caso dos leilões, verifique se os leiloeiros estão cadastrados junto ao Judiciário. As contas para depósito em leilões oficiais não são de pessoa física ou jurídica e, sim, judicial
- No WhatsApp, habilite a verificação em duas etapas e não forneça esse tipo de código por telefone. O mesmo cuidado vale para outros aplicativos — de compras e bancos — que tenham o recurso de verificação em duas etapas
- Em aluguéis de imóveis, desconfie de preços abaixo do mercado, se o dono exigir adiantamento e tiver pressa para que o depósito seja feito ou mesmo se o proprietário não aceitar atender a ligações ou se recusar a receber visita do locatário, para conferir a casa
- Se receber contato por telefonema ou mensagem de familiar pedindo ajuda, certifique-se de que é real. Telefone para a pessoa antes de qualquer transferência. Converse com outros parentes antes de fazer qualquer depósito
- Se estiver vendendo algo, não entregue o bem antes de ter certeza de que recebeu o valor do pagamento. Depósitos só são confirmados pelo banco após a conferência do envelope. Então, aguarde para enviar a mercadoria
- Se for vítima, registre o caso em uma delegacia da Polícia Civil ou pela Delegacia Online. Tente repassar aos policiais o máximo de informações sobre os golpistas
Fonte: Polícia Civil-RS
Como denunciar
Caso seja vítima de algum golpe ou perceba que uma página ou perfil está disseminando notícias falsas, registre o fato na Polícia Civil. Só assim será possível investigar os crimes e chegar aos responsáveis. A comunicação pode ser feita por meio dos números 197, 181 ou no (51)98444-0606. Também é possível registrar ocorrência presencialmente em qualquer delegacia ou pelo site da Delegacia Online.
Fonte: GZH
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